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Vendem-se Gentes



Um homem casado, do Mato Grosso do Sul, teve uma ideia brilhante e original, e que não merece repúdio meu nem seu: colocou à venda a esposa no site de leilão “Mercado Livre”, por insólitos R$ 100,00. Eis o anúncio:


“1.60m, 65 kg, loira, muito boa de cama, ótima na cozinha, limpa a casa que é uma beleza, nunca teve filhos, tem apenas 35 anos. Chama-se Neuza e é uma mulher de ouro”. Ainda explica: “Preciso MUITO de dinheiro”, e conclui: “Depois que conseguir o dinheiro, vou kerer (sic) comprar a mulher de volta.”


A ministra da Secretaria Especial de Política para Mulheres, Nilcéa Freire, que pediu com urgência para que o Conar, órgão que regulamenta anúncios publicitários, retirasse do ar a propaganda, falou irresignada: “o anúncio contraria a ética da sociedade”.


Eu discordo. Uma transação comercial dessa natureza requer mais do que o usual “toma lá dá cá” das milhares de negociações executadas por aí e por aqui; em não se tratando de produto inanimado, a negociata pede a anuência da “mercadoria” em questão. A não ser que a senhora transmutada em commodity pelo consorte seja muda e inerte como um saco de arroz, o que parece não ser o caso, uma vez que corre a lenda de que mulheres de 35 anos, loiras e casadas, falam que é uma beleza.


A natureza humana é o maior poço de insensatez do universo. Se o sujeito pode vender seu carro, sua casa, seu sapato, sua camisa, coisas que são suas por mero direito jurídico, mas que não lhe pertencem intrinsecamente, por que raios ele não pode vender sua opinião, sua consciência, sua pele, seu fio de cabelo, produtos seus e mais do que seus porque são seu próprio ser? E (para coroar a demência da gente) já que nas relações conjugais sempre se diz “minha mulher”, mas nunca “meu homem”, por que ele então não poderia dispor da “sua mulher”, vendendo-a num leilão eletrônico?


São aberrações. Quando estiver regulamentada a venda de seja lá o que for que pertença ao homem, sem restrições morais ou legais, a humanidade se redimirá dos seus imensos pecados capitais e periféricos, e o grande bazar social obterá sua redenção final:


- Jocelino, tô vendendo meu irmão; é meio vesgo dum olho, coxeia um pouco, mas ainda fica de pé quando tosse. Peço 300 contos.


- Então, Genival, quanto num vale a minha vó Talarica que, além de enxergar bem, cozinha que é uma beleza? Quero 800 contos na véia.




Escrito por Alex Menezes, às 18h43.


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