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Triste Semana de Outubro

“Que dia, puxa! Que vida danada/ tem tanta calçada/ pra gente desanimar...”


Têm semanas que são necessárias que acabem rápido, porque senão elas acabam com a gente, como esta passada. No Rio, o diretor do presídio Bangu 3 foi chacinado com inacreditáveis 60 tiros de fuzil; e ainda há paz e cordialidade entre os cariocas. Em São Paulo, as duas forças de segurança pública do estado se confrontam de forma melancólica, deixando atrás de si um rastro triste de incompetência e desgoverno do governo.


A mais pungente das tragédias desta esquecível semana, no entanto, foi o fim trágico do sequestro das adolescentes em Santo André, tristemente resolvido com a morte da menina Eloá, dona de sonháveis 15 anos e de um destino cruel; o destino, esse malquisto parceiro da vida. A morte é uma liberalidade do destino; sua forma às vezes torpe de se revelar é que condena-nos antes de matar.


Todos têm suas próprias razões para cometer seus atos vis; ora, direis, mas para fazer mal a outros? Para fazer mal a outros também há uma razão. Ele, sequestrador, tinha a dele, coisas do coração e da loucura. A própria lesão afetiva dá a quem comete este tipo de crime uma “justificativa”, porque, em regra, o agente que pratica o crime não é um criminoso em essência, ele se torna um criminoso, sem essência. Pode-se até chegar ao delírio de tentar compreender a mente do passionalista, sua aflição. Lindenberg não tem esse benefício. Seu escárnio o exclui de alguma espécie de perdão.

Aquilo de dizer que “ouvia mais o diabinho do que o anjinho” é mostra final do seu desvalor amoroso; ali ele perdeu o mínimo que há de nobre no ato desesperado que a agonia do amor não retribuído é capaz de fazer: transformar um homem pacato num monstro violento. Pior, tentar contra a vida de outra pessoa que não é o objeto da loucura é outro sintoma de seu despudor e de sua pequenez enquanto ser dominado pela emoção da desilusão amorosa.


Ora caído, vivo porém morto, execrado pela família, pela sociedade e pelos futuros colegas de presídio, o sequestrador das meninas, além de não merecer qualquer comiseração, mancha a biografia dos futuros autores de crimes passionais. A crueldade e o divertimento com que ele executou seu plano, manipulando, causando sensação, apreciando a celebridade adquirida, só poderia encontrar um único alento não amparado pela atual legislação atual: alguém levá-lo a um parque num dia ensolarado, comprar-lhe um sorvete, fazê-lo sentir os raios solares tocar-lhe a pele, obrigá-lo com docilidade maternal a olhar o astro celeste e lhe dizer:


- Está vendo o Sol? Despeça-se dele, você nunca mais o verá novamente.





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