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Sexo Proibido



Não se entende porque a cidade de Barra de Serinhaém acordou excitada com o anúncio de que a prática sexual fora abolida pela câmara municipal entre os seus condignos cidadãos, uma vez que a contribuição fiscal e demais obrigações alojadas nos fortes ombros dos munícipes eram religiosamente honradas, inclusive com excessos monetários que faziam baixar gradualmente os tributos semanais, tal era o desvelo e a pertinácia daqueles habitantes zelosos da paz e da saúde financeira da prestigiosa cidade.


A vereança, habituada ao zelo pecuniário, logo farejou um desvio no zelo moral dos habitantes, coibindo toda e qualquer relação sexual limítrofe à sua jurisdição. Inconformados, alguns moradores ameaçaram uma moratória, outros, mais perspicazes, e por isso mais expostos às represálias, calcularam que igual legislação não teria eficácia plena, uma vez que seria assaz improvável e difícil fiscalizar todos os moradores no refúgio inviolável de seus lares.


- Entende mal a atribuição e a efetividade da lei, censurou um dos propositores do inédito modelo a um habitante inquieto com o alcance da nova norma. Todos os moradores, continuou, em idade reprodutiva farão um exame, todas as manhãs e todas as noites, na sede da prefeitura; aquele que burlar a lei, será impiedosamente castigado: andará nu pela cidade por prazo indeterminado, até nova resolução da Câmara.


A vigência da lei ocorreria a partir da manhã seguinte ao anúncio, sendo obrigatório o referido exame a todos os homens e mulheres em idade considerada razoável à atividade sexual. O intenso alvoroço entre os citadinos se deu não pela suspensão autoritária do ato sexual, mas sim em como saber como se daria o exame, que aparelhos seriam usados, se o método seria científico ou homeopático, se careceria de amostragem pudicas, apreciação de tecidos, coletagem de fluidos etc.


Tomados de enorme expectativa, os honoráveis cidadãos não puderam gozar a noite como era então o costume noturno do lugar; mulheres aflitas conversavam com amigas sobre o processo a ser usado na aferição da abstinência --- haveria um exame invasivo? Grande foi o terror. Os homens amedrontados preferiam a segurança do sofá mono-lugar à tentação de deslizar no colo das esposas. Era corrente que a proibição excitava casais amorfos, namorados sem paixão; os idosos, cuja lei não os atendia, degustaram do mais sublime prazer não saboreado desde à tenra idade: eram autênticos os sussurros e grunhidos ouvidos em toda cabana – havia cabanas na cidade – que abrigasse uma cama e dois caracteres de indistintos sexos.


Nove meses passados e a população da bela cidade de Barra de Serinhaém sofreu grave acréscimo de contingente, não sendo possível às maternidades locais atenderem a avalanche de nascituros e parturientes, fato que onerou grandemente o orçamento municipal dada a necessidade de importação de médicos obstetras (e na falta destes, as arcaicas parteiras) e todo o demais aparato médico-hospitalar para atender à demanda.


Inconformados por terem sido enganados pela Alta Câmara, os habitantes se vingaram com a mais calculada das astúcias; voltaram à monotonia sexual que lhes trazia grande bem-estar psíquico e físico. Em pouco tempo, todas as atividades sexuais regrediam à mesmice característica da rotina social; quando um ou outro habitante exaltava-se em gritos no ápice do prazer, era logo repreendido e alvitrado a conter a libido ou, se possível, racionar a volúpia externa e a extravagância de demonstrar a felicidade conjugal em altos brados. É patente que poucas são as cidades e os cidadãos que apreciam a felicidade, sobretudo quando ela é alheia.





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