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O Sapato e o Bobo Moderno

Viram lá o negócio do sapato voador que quase atingiu o presidente George Walker Bush? Viram também a fanfarra da imprensa e dos editoriais usando o episódio como "símbolo" da Era Bush? Pois é. Antes de arrazoar sobre isto, espero que os analistas tenham razão e que eu seja apenas um celerado, bobo da corte, um Yorick piorado.


Ah, o Yorick... Ele é uma das únicas personagens do mundo que atua morto, quando Hamlet toma seu crânio, que mesmo morto, parece sorrir:


- De quem era este crânio?


- Do mais extravagante louco que já se viu. Para o diabo com sua loucura! (...) esse crânio aí, senhor, é de Yorick, o bobo do rei.


- Deixa-me vê-lo. Pobre Yorick! Conheci-o, Horácio; um sujeito de chistes inesgotáveis e de uma fantasia soberba. Carregou-me muitas vezes às costas. E agora, como me atemoriza a imaginação! Sinto engulhos. Era aqui que se encontravam os lábios que eu beijei não sei quantas vezes. Onde estão agora os chistes, as cabriolas, as canções, os rasgos de alegria que faziam explodir a mesa em gargalhadas? Não sobrou uma ao menos para rir da tua própria careta?


Quantos bobos existem ainda hoje? 5 bilhões? 5 bilhões é um número expressivo. Vamos à exatidão de um chute: 5,8 bilhões de bobos da corte ora vivos.


Walker Bush é um homem fraco dominando um cargo forte, mas entende-se que o cargo foi quem dominou o homem, como é a regra geral dos que detém muito poder. Mas pô-lo como vilão num cenário de penúria, só porque os tempos não são decentes, não é justo.


A operação no Iraque é muito positiva; primeiro porque eu não estou lá, e segundo porque as guerras, quando são geradas, trazem um alento que só os visionários entendem, mas não ousam explicar, porque é uma tese impopular e, tirando eu, ninguém gosta de ser impopular.


Eu, sendo presidente duma superpotência como o EUA, atacaria o Irã, a Coréia do Norte, e depois qualquer nação que se opusesse aos meus intentos, Israel, Síria, Paquistão, China, Índia, menos as repúblicas rebeldes da extinta União Soviética. São países tão acostumados com guerras e revoluções que nem afetaria a rotina de mortes já tão presente em qualquer canto e acentuadas lá. Na verdade, há guerra nesses lugarejos; só não é oficializada, institucionalizada. Com a oficialização, os países ganhariam ajuda humanitária, visibilidade midiática e a proteção inócua dos editoriais dos grandes jornais. Enquanto ela for oficiosa, só ganhará as manchetes dos jornais, que não enchem barriga de ninguém, exceto a barriga da empresa que vende papel, que vende tinta, que vende madeira, que vende jornalistas, que compra leitores.


George Walker Bush, se dependesse de mim, seria canonizado pelo Vaticano. Parece que ele é católico fervoroso; reside aí o primeiro critério para sua beatificação.





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