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O Prefeito e as Amoras Brancas





“Cana/ caqui/ inhame/ abóbora/ fim de feira periferia afora/ a cidade não mora mais em mim/ Francisco/ Serafim/ vamos embora...”


O atual prefeito de São Paulo merece a invenção de um sentimento novo. Eu pessoalmente não sei o que sentir por ele; estou entre o desazo e os efeitos que me provocam uma opereta bufa. O ilustríssimo alcaide da nossa, minha, sua e de quem mais quiser, cidade quer proibir, vejam só, que os feirantes anunciem aos berros as bananas, o nabo, o pepino e a mandioca; seres vivos decerto, mas que não foram abençoados com o talento da fala.


É uma piada boa essa. Principalmente para mim e para você que não tem a janela do quarto defronte à barraca do feirante berrador. Mas são tradições. Fica difícil imaginar o feirante, o avental cor de tubérculo, passando um e-mail para a freguesa via palmtop com as ofertas do dia. Barracas equipadas com wireless. Claro que têm tradições e tradições. Algumas, como as das balas perdidas, ainda são mantidas porque, como o dente foi feito para casar com a fruta, a bala não tem outro cônjuge senão os membros de algum transeunte, ou “caseunte”, tão intrometidas essas danadas são.


O prefeito carece de visibilidade. Assumiu o poder, meio assim, de paraquedas, com mais de 80% da população desconhecendo seu nome e seu currículo. Então, como medida de urgência, toca a criar leis polêmicas que, se não garantem popularidade, garantem publicidade, o que vale mais do que popularidade a saber que nosso estimado povo tem memória infinitesimal; e daí, quando o homem resolver alçar novos voos políticos, os eleitores, em dúvida, não lembrarão se ele proibiu a venda de frutas ou se as inventou.


- Tinhorão, esse aí não é aquele moço que inventou o tomate?


- Êh Miguezão besta, ele inventou foi o molho, tu num lembra não?


Na lenda, Píramo e Tisbe viveram um amor impossível, como o meu e o teu (guardadas as devidas proporções, claro), e, enganado por uma leoa, que ele imaginou que tivesse devorado sua amada, enfiou uma adaga no próprio peito; seu sangue esguichou e tingiu de vermelho as amoras, que até então eram brancas como a neve. O sangue derramado atingiu a raiz da árvore, e aí as amoras ficaram vermelhas para sempre, como metade da camisa do Flamengo.


Que tem isto a ver com o nobre Giba K? Ora essa! Se o sangue de um reles enamorado mudou em definitivo a cor duma fruta silvestre, me digam o que será quando ele baixar um decreto proibindo certas frutas de nascerem, sei lá, com aquele forte odor de semente da terra?





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