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O Nascimento da Lua


Ela turvava um caminho prateado entre as folhagens virgens de lua-luz. Ela descia por entre as frestas, aceitava um bloqueio de rocha. A lua não era nova, era nova lua; no seu começo, não se lhe era dado ter fases para a cansar. No seu processo de criação, o lapidar de sua forma ovalar fora esculpida com sopros (ventos celestiais), que em vez de a moldar eram eles moldados logo após de por ela passar. Vento, não fauno lunar.

A lua nasceu. Escolheu boiar, não quis se fixar; algo a suspende, e não é o vazio. A lua-máscara a nos observar. Nos via antes de nós havermos. Uma lua cheia de nós a desatar. Tamborilava os gemidos do nascimento da terra – sua cúmplice. Irmã.

Um folguedo, um míssil de luz e plush!: num só golpe, incandesceu a estrela-anã solar, Sol. Não carecia a lua-de-luz. A anã a paga diariamente o que dela há tempos recebeu, sem atrasar um dia sequer a prestação. Há milênios ludibria astrônomos fazendo-os crer que ele é quem empresta luz à lua: o maior engodo estelar.

Lua que não chora, que não sente, que só brilha, que nos percebe(gue); lua que me visita; a casa de teto de zinco furado para a visita da lua receber: goteira de lua, lua que pinga num pingo imóvel. Pingo em silêncio. Era a lua despejada no chão, ou meu chão era um seu espelho? Não há lua-narciso.

Boa anfitriã, nela pisaram: em vez de astro, cosmo, homens nautas, deviam mandar mulheres nautas, bailarinas: em vez de pisar, apenas bailar.

Lado obscuro da lua. Nunca se mostra, Caetano cantou. Hemisférios. Satélite. Alcunhas: Lua, olho de Deus a nos olhar. Ou: o abajur do Criador, essa terra, o criado-mudo do Criador. Um segredo a revelar: o parto terreno da lua, não o da Vênus:

(O Nascimento de Vênus, Botticceli)




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