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O Erro de Neymar




Neymar pode ter cometido um erro crasso e decisivo na sua carreira. O país europeu escolhido é o óbvio e certo; Itália, Alemanha e Inglaterra aniquilariam seu futebol fantasista e lúdico, mas o Barcelona era o time ideal para ele não ir; primeiro porque dividir o palco com um asteróide da magnitude de Lionel Messi já é por si temerário; seria como colocar na mesma cena Sinatra e Caruso. A única vez na história do futebol em que duas mega-estrelas dividiram o gramado no mesmo time e deu certo foi quando Pelé e Garrincha jogaram juntos, ainda assim, apenas na Seleção e em uma Copa e meia, já que Pelé se machucou na de 62 e Mané fez o que fez, ganhando-a praticamente sozinho.


O estilo de jogo do Barça conflita com o de Neymar, que conduz a bola em demasia, sendo que o time catalão rifa-a de forma alucinante de pé em pé até irritar o adversário e mesmo Messi só a conduz quando é para ser letal e decidir e mais do que isso, o time joga em quadrilátero com e para ele.


Encaixar um jogador esplêndido, mas individualista, como Neymar num esquema de jogo matemático e frio como este do Barça é virtualmente impossível, e não por falta de técnica do brasileiro, mas de psicologia e fundamentos, ambos desprezados no futebol brasileiro. Neymar pode se dar mal por temperamento, nunca por não saber jogar.


Se ele fosse para o Real Madrid, teria muito mais chance de brilhar, já que o time merengue não tem esquema de jogo nenhum, não prima pelo jogo coletivo e se sustenta no talento individual de seus excelentes jogadores, onde Neymar poderia se encaixar perfeitamente e iria pintar e bordar, e seu “oponente” o português-de-grife Cristiano Ronaldo, é mais suscetível a ataques de estrelismos para o caso de ser ofuscado, o que abriria ainda mais espaço ao brasileiro.


Neymar está acostumado a ser o centro das atenções, o astro solitário todo o tempo, a ser bajulado mesmo quando erra, como será seu comportamento quando entender que será apenas mais um e ainda mais à sombra de Messi que fará de tudo para lapidar ainda mais sua arte para provar a si e ao mundo que não tem rival? Está aí o exemplo de Robinho, que chegou ao Real Madrid como uma estrela e hoje é um jogador comum no Milan.


Outro dado preocupante é o baixo rendimento do atacante contra times fisicamente fortes, como mostrou o seu desempenho nos vários jogos contra o Corinthians, (o mais europeu dos times sulamericanos) e nos jogos do Brasil contra grandes seleções, sobretudo contra a Argentina de Messi no célebre jogo em que La Pulga, marcou 3 vezes contra o time canarinho, feito que levou 30 anos para se repetir, já que Paolo Rossi fez 3 no fatídico Sarriá em 1982.


Para superar essa aparente dificuldade, Neymar terá de jogar mais com o cérebro e menos com a imaginação. Readaptar o estilo de jogo, cair menos, e jogar de forma mais frontal, com o corpo mais ereto e curvando-o apenas quando estiver com a bola grudada no pé, o que no impacto das faltas dificulta a queda. Para isso terá de passar por um processo de recomeço e aprendizagem, coisa difícil quando se atinge um auge precoce como no seu caso. Se conseguir mudar a forma de jogo, poderá sacrificar o estilo que o consagrou e por conseguinte diminuir sua eficiência técnica, que é admirável, mas que poucas vezes foi testada contra adversários de alto nível como os que enfrentará sobretudo na Liga dos Campeões.


Se conseguir reduzir o oceano de vaidade que infesta a mente de qualquer jovem atleta que consegue se destacar, o craque poderá ir além. Neymar hoje não é movido por conquistas financeiras, pois já as têm; intenta ser um mito e poderá sê-lo se se armar com dedicação extrema a mudar completamente os hábitos e vícios de jogo; o craque que brilhou no Brasil não poderá ser o mesmo craque que tem tudo para brilhar na Europa, mas também tem tudo para nela fracassar, torço pelo seu sucesso.


O pensamento do italiano Giusepe Lampedusa, servirá para auxiliar Neymar na sua aventura europeia:


“Tudo precisa mudar para continuar como está”


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