Os deuses do futebol veja você, não entendem de futebol. Se entendessem não teriam deixado as fabulosas seleções da Hungria 54, Holanda 74, e Brasil 82 perderem a Copa para dar glória aos fatos.
Tal pode ocorrer hoje, com este estupendo Barcelona de Lionel Messi.
No jogo pelas semifinais da Liga dos Campeões contra o Chelsea, o time catalão chegou a ter 80% do domínio da bola, chutou a gol 24 vezes contra apenas 5 do rival, e perdeu o jogo por distração e má vontade das potências ludopédicas que assistem o futebol lá das nuvens.
Toda vez que a burocracia impera, cai a dinastia da criatividade. O Chelsea jogou com 11 na defesa. A covardia além de empobrecer o jogo como espetáculo ajuda a entender porque o pragmatismo ainda sobrevive, apesar de merecer morrer.
No jogo de volta no Camp Nou, como virá o esquadrão inglês? Com 11 zagueiros? Chico Buarque queria que o futebol tivesse um esquema tático com 11 no ataque, sem goleiro. Conforme fragmento dessa crônica dele, para a Copa de 98:
“Eram eles os donos da bola, marca Mac Gregor, quando sem refletir a desembarcaram na América do Sul, um século atrás. No Rio, em São Paulo, em Buenos Aires, os ingleses detinham, além de todas as bolas, o monopólio das chuteiras, das camisas listradas e dos campos de grama inglesa, como manda a regra, perfeitamente planos e horizontais. Em sensacionais torneios, com turno e returno, jogavam então Inglaterra versus Inglaterra. Aos nativos, além da liberdade de torcer por uma ou outra equipe, sobrava a alegria de catar e devolver as bolas, que já naquele tempo os britânicos catapultavam com freqüência. Em 1895, segundo a crônica paulistana, confrontavam-se Railway Team e Gas Team, quando huma pellota imprensada entre dous athletas subiu aos céos e foi cahir às mãos de hum assistente. D’improviso, o cidadão seqüestrou a pellota. Metteu-a sob o braço e escafedeu-se no matagal, perseguido por dezenas de crioulos. Foi alcançado ao cabo de meia hora, às margens do rio Ypiranga. E celebrou-se alli, em terreno pedroso e cascalhudo, o primeiro jogo de bola entre brasileiros, com cincoenta actuantes e nenhum goalkeeper”
Hoje a prevalência pelo medo em enfrentar o Barcelona supera tudo, até a coragem. Queria ver um time corajoso, entrar em campo e perder de 28 a 0 do Barcelona, mas perder com dignidade, não vencer com desonra, como já fez a Inter de Milão em 2009 pelo mesmo certame, usando como principal jogador a Covardia e a Vergonha de jogar com 10 atrás.
Que o Barça continue tendo 99% da posse de bola, que continue massacrando os adversários, até que um dia apareça um treinador ou um filósofo e lhe diga: farei igual, nem que para isso tenha de perder.
Espero que o Barcelona não apenas ganhe do Chelsea, mas que o desmoralize perante o esporte bretão.
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