O Barcelona planeja e executa um tipo de operação muito parecida com futebol, mas que em essência é atividade diversa do conhecido ludopédio. Vencer o Santos por econômicos 4 a 0 não dará a dimensão da superioridade do time catalão aos torcedores do futuro, o justo para o êxtase da fantasia seria 8 a 1.
O Barcelona eleva o futebol a uma categoria que intenta solitariamente enterrar a mediocridade do futebol de resultado, humilha retranqueiros e teóricos da mediania.
A forma de jogo do time da Catalunha impressiona e congrega, une outras ciências extrapolares ao esporte. É contraditório porque encanta com a arma da opressão. Nem os times de Pelé, Di Stefano e Zico tinham essa obsessão; queriam apenas ganhar, já o Barcelona quer algo além disso, quer imprimir o novo estilo ao já consagrado, porém simples, vencer.
E a maneira que o time o faz é aterrorizante. A equipe com seus toques minimalistas e pontuais, alerta a irritação do adversário que atônito perde a concentração substituída pela raiva da impotência; daí em diante é só controlar, como um hospedeiro se instala nas vísceras da sua vítima o Barcelona domina primeiro os nervos, depois as carnes expostas do pobre oponente que tenta em vão lhe fazer páreo.
A final contra o Santos não foi uma partida de futebol, foi uma enciclopédia.
Messi, Xavi e Iniesta conduzem um time sem igual, eles armam, cadenciam, investem, recuam, marcam, trocam passes, se auxiliam, estonteiam os inimigos com uma perícia de tal modo cirúrgica que o 72% a 28% de posse de bola reflete mais uma hierarquia do que uma superioridade campal; eles são um alfabeto, enquanto o Santos foi uma vírgula.
O martírio do Santos ao enfrentar tão colossal oponente se deu já nos primeiros minutos; 5 minutos olhando o time espanhol bailar com a bola sem a poder dominar, daí em diante foi show e preciosismo que não tornou o placar mais exato à ordem da superioridade. A super goleada não diminuiria o time brasileiro, antes, faria com que uma revolução fosse implantada desde já no futebol, jogar à frente e sem medo de perder é a mais eficiente forma de jogar. O Barcelona um dia vai perder. E o próximo time a destroçar sua atual filosofia de jogo será aquele que jogar com 10 no ataque e o goleiro de zagueiro.
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