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Mais do Mesmo: Mesmo?

O grande problema é que não gosto do ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Primeiro porque não gosto do nome Gilmar, nem do Mendes. Dentro deste sentimento, fica bastante prejudicada minha opinião sobre ele. No entanto, toda a celeuma que envolve seu nome por ter tido conversas grampeadas dentro de seu gabinete é um sinal de como andam nossas instituições e os instituídos.


Ao conceder dois habeas corpus relâmpagos para livrar do xilindró o senhor banqueiro Daniel Dantas, que, como quer a capa da revista Carta Capital, é “o rei do Brasil”, minha precária simpatia por ele migrou para a antipatia pura e serena dos paladinos sem justiça. Mendes é a vera efígie do burocrata moderno, do homem talhado dentro dos ditames da “lei” que o norteia, apruma e sensibiliza, metaforicamente falando, claro. A tecnocracia é a deusa que afaga sua fé; fora isso, o resto é loucura.


Se é verdade que vivemos num país sem solução possível para os próximos cem anos, também é verdade que esta geração que ora grassa por sobre “o lábaro que ostenta estrelado” é das mais ditosas que se tem produzido. Homens fracos geram instituições frágeis. E tudo o que ela produz é ruim. A política é de má qualidade; a arte, sofrível. Tudo é um pranto.


Somos um ruim país.


Duas leis chamam a atenção para este farol. A primeira, a lei que regulamenta o uso de algemas; a segunda, a que versa sobre os grampos telefônicos. Ambas coisas são executadas no Brasil com a devida colaboração da dormência que atinge o homem que acaba de saciar a fome com uma feijoada, prato todo nosso. Bastaram os tubarões serem (1) algemados em praça pública, (2) serem flagrados negociando a pátria mãe, que, apesar da ditadura, continua distraída, e pronto, faz-se as leis para que os altos homens da República não sejam atingidos nas suas malfeituras. Sintoma de um país sobrecarregado de ignorância.


Ouvi falar em “volta do estado policialesco”; tempos de KGB, Stasi, Gestapo. É possível? Não é. Eu não sei o que é estado policialesco, exceto pelo que dizem os livros; o que os livros ensinam é que nessas ditaduras, tudo acaba no porão; hoje, acaba na mídia, avesso irônico do submundo do porão dos tiranos, que os poderosos hodiernos evitam a todo custo.


Gilmar Mendes, plural no uso da força da caneta para benefício ímpar, é agilíssimo em soltar bandidos notórios e criar regulamentos para que eles não sejam facilmente pegos nas ratoeiras dos códigos penais.


Ulisses, aquele da Odisseia homérica, se cansava em ter de narrar ao rei Alcinoo (que lhe deu guarida) várias vezes a mesma história, achava enfadonho ter de repetir suas proezas náuticas em cada reino que o acolhia. Eu, como Ulisses (apesar de não ter Penélope alguma a me esperar, tecendo colcha ou afeto), também me aborreço em ter de falar mais do mesmo sempre, das mazelas que afligem esta terra insolvente e insolente. Só queria ver se eu fosse ministro de alguma coisa, presidente, banqueiro, ator de cinema, uma preeminência dessas. Se eu mantivesse a retidão, a disciplina de espírito, o caráter afinado com a modalidade da ética, meus caros, seria caso de internação ou de estudo científico: na internação, seria descoberta uma lesão cerebral que impedia a conduta comum dos poderosos; na ciência, ficaria pacificado entre os especialistas que eu não passava de uma fraude grosseira; podia ser tudo, nova espécie, um flerte com o grotesco, qualquer coisa, menos homem com braços e pernas.





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