- Ei, você é advogada?
- Não.
- Estagiária?
- Não.
- Hmmmmm, contadora?
- Contadora de quê? Também não.
Perguntei isso a uma menina, seus 7 anos de idade, que entrou, sozinha, no elevador do prédio onde trabalho, um prédio comercial. Pele branquinha, o cabelo feito no molde de argolas. Uma gracinha a menina.
- Já que você não é nada disso, vai ser o quê quando crescer?
- Veterinária. – disse de bate pronto.
A juventude está fraturada. Perdida. Sem solução. Os jovens são um retrato do fracasso do presente e do futuro nacional. Os índices de consumo de drogas aumentam entre os jovens, segundo pesquisa do IBGE publicada recentemente. Um sociólogo ouvido pelo Estado de SP deste domingo (10/12) explicou que o futuro é sombrio, porque os jovens acham que “o máximo da existência é andar de Jet Ski”. A juventude está perdida.
Li num jornal venezuelano uma história comovente: uma mãe que, com muita dificuldade, criou sozinha sua filha, viu-a, já adolescente, ir embora para a casa do pai que tem mais “recursos”. É isso o que importa aos jovens, “mais recursos”, pois eles precisam gastar, comprar, se enfiar em tribos, se diferenciar de todos para ficar igual a todos. A mãe, que parece ser um modelo de mãe, trabalha, cuida da casa e ainda estuda à noite.
Diogo Mainardi escreveu num artigo outro dia que entrou numa sala de bate-papo da faixa dos 15 a 20 anos, para saber o que pensam os jovens. Belo laboratório. Perguntou se algum deles sabia quem era Cervantes e um dos salonautas disse “conservantes? Sai pra lá, tio!”. Semana passada, na fila do cinema, presenciei duas meninas indo ao guichê receber o dinheiro do ingresso porque foram expulsas da sala, pois um dos espectadores reclamou que elas estavam perturbando; o diálogo: “É porque é velho, velho é f..., por isso ninguém gosta de velho”. O que pensar de uma juventude que não respeita os velhos?
Felizmente as exceções existem para destruírem as minhas regras inúteis. A exceção foi a menina que entrou no elevador e me salvou do pessimismo. “Veterinária”. O elevador chegou no andar onde um adulto a esperava, ela me falou “tchau” e foi embora, sem saber que tinha renovado as esperanças de um velhote como eu. Era linda a menina, devia se chamar Carolina. Quando minha filha, que está em Âmbar, resolver nascer, se chamará Carolina. – Um beijo pra você aí em cima, Carolina.
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