“Diga a Maricotinha que mandei dizer que eu não tô/ não vou/ não tô/ se fizer bom tempo amanhã/ mas se por exemplo chover/ não vou/ não vou...”
Ou isto:
“Nessas tortuosas trilhas/ a viola me redime/ creia ilustre cavalheiro/ contra fel/ moléstia/ crime/ use DORIVAL CAYMMI/ vá de Jackson do Pandeiro...”
Morreu. Como diz meu amigo Contardo Caligaris, aprendi que Dorival morreu quando aprendia a apreciar sua arte.
Quando nasceu em 1914, Dorival foi recebido por um mundo bastardo e hostil; guerreiro em escala mundial, quando se despediu dele, 94 anos depois, o deixou sorumbático e ardido, parecendo gentil nos cantos, mas perigoso no centro, feito brasa com borda apagada.
O contraste entre o mundo herdado e legado por Dorival e sua música é de uma violência de brisa: fere e acalenta espíritos difusos.
Esse negócio de pressa, velocidade, carreira não era com ele. O atual mundo é adepto da religião em que ele seria um herege. E para quê correr se o destino é comum para apressados e vagarosos, com a vantagem de que o vagar faz pulsar no vagaroso um hormônio meticuloso que transgride e integra todas as sensações que há.
Dorival cantava e criava o que cantava de um modo tal que aquilo que o ouvido recepcionava parecia ser fluente em qualquer idioma.
Vá lá, Dorival. Morrer é só uma histeria alheia à nossa índole, assim como sorrir e chorar; é tudo a mesma coisa.
"Boi/ boi/ boi da cara preta/ pega essa menina que tem medo de careta..."
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