O escritor de língua portuguesa Paulo Coelho lançou seu novo livro que trata do mundo mais sedutor do mundo dentro deste mundo, o das celebridades. Lá, Coelho passeia pelos bastidores desse mundão de nenhum deus. Li os dois capítulos do livro, que veio junto com a minha assinatura da revista Caras. Naturalmente.
Coelho enfatiza a “Superclasse”, círculo de pessoas que, segundo nos faz crer, define o meu e o seu destino, mas não os deles próprios. Não sei quanto a você, mas a minha vida já é ditada e equilibrada por essa classe seleta que envolve gente do quilate de Gugu Liberato, Britney Spears, Xuxa, o igual Coelho e demais personagens que tem honrando a humanidade. Ele disse numa entrevista que é o maior intelectual do Brasil. Tudo o que ele disser em proveito de sua efígie, eu apoio. Creio que você deve fazer o mesmo.
Se Coelho, do alto de seus milhões de leitores mundo a dentro, diz que é o maioral, que é a mente por trás deste século, não podemos discutir. Os 100 milhões de livros que ele diz que vendeu autentica-o a dizer o que quiser, inclusive a verdade, que é dolorida quando dita por um desafeto ou por um espantalho. Diz-se que os “intelectoloides” têm inveja dele pelo sucesso comercial. Eu mesmo tenho. Se tivesse 100 milhões de leitores, poderia ter 100 milhões de mulheres, 200 milhões de inimigos; tudo assim, exponencial.
Mas não faço crítica literária; quero me prender nisso da Superclasse. Esse pessoal é como uma entidade que paira por sobre o comum dos homens. Igual aos gafanhotos e aos arqueiros do céu, como também são conhecidos os habitantes daquelas lonjuras. Eles têm alto poder de tudo: de compra, de perfil, bélico, artístico. Dominam o mundo e, por extensão, as suas nossas mentes. Não estamos lascados com tutores assim? Não estamos. Aristóteles queria que nós fossemos governados por uma elite de sábios, reis-filósofos, essas purezas. Mas o pensamento do mestre é artesanal. Controlados por imbecis, temos a glória de zombar dos controladores, deleite que nos seria negado, caso só supermentes nos guiassem. Como censurar um Descartes por ter criado e desenvolvido o método que desembocou nos números binários de Leibniz? Como desacatar um Kepler por (apesar da miséria em que vivia) abrir as possibilidades do universo para a modernidade? Imagine-se dando uma dura no Kierkegaard pelo seu veio demasiado católico? Xingar Waldo Emerson pelo excesso de pensar... Não seria possível.
Um planeta governado por coelhos é muito mais interessante; de coelhos, geram-se golfinhos, que, como aprendemos com a ciência, é um animal que pensa de forma unilateral, como os humanos. Sapiência demais embrutece, segundo diz Pascal; no paraíso da ignorância é onde reside o bem-estar; isso de ficar pensando, pensando muito, tira o juízo e o coloca em oficinas perigosas, como as que fazem a manutenção das mentes dos invejados seres da Superclasse. Tabulas niente, como diriam os romanos.
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