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A importância do Homem Corinthiano

Já que tudo hoje em ano é “engraçado” achei venturosamente engraçado o fato de meia dúzia de corinthianos (tinha de sê-los) ficarem, alta madrugada, defronte ao hotel, onde hospedado estava o Sport do Recife, adversário da final da Copa do Brasil, soltando rojões. Você sabe que um fenômeno desta envergadura pede confeitos: uma simbologia, motivações ocultas nos mitos, a estranheza profunda do que guarda a psique humana. Eu vou além. Quero arrancar deste episódio a necessidade educacional, o fluido civilizatório, a contribuição que ele dá para a existência fazer sentido.



Agentes como esses corinthianos são de uma imprescindibilidade loquaz para o desenvolvimento universal; mais, sem eles, seriamos incapazes de apreciar uma paisagem nevada, entender um tratado sobre física, uma tela de Franz Post; no mínimo tais coisas perderiam grande percentual do valor.



Com cidadãos como esses corinthianos são realçados os valores artísticos e morais da nossa história humana e na conta entra a imensa variedade do gênero, pois enquanto Picasso pinta um Guernica outros homens, inacreditavelmente também nascidos de úteros, avançam madrugadas frias na porta de um hotel, fazendo zunidos.



É verdade também que se todo mundo pintasse guernicas seria uma chatice só; daí a importância de corinthianos de todas as matizes para dar graça e leveza a este mundo divino e supradivino, quando menos torná-lo apetitoso, gostoso de ser andado, contrabalançado. Por falar em balançado, o perfeito equilíbrio da balança social se dá quando a estupidez concorre com a lucidez, chamando-a para a realidade de que isso de ser sempre reto, pensativo, traz amarguras e hemorróidas, como aquelas do Velho Testamento.



Esses seres humanos do hotel saíram de lá leves e levíssimos; parece que alguns ganharam uma bordoada e sentiram a maciez do cacetete por sobre o lombo; prova inexorável de que não se faz arte sem dor.



A lenda diz que após pintar a Guernica Picasso não teve apenas de se explicar aos nazistas (“ - Quem pintou isso?” “- Vocês”) mas ficou com o espírito demolido pela dinamite da melancolia. Duvido que algum corinthiano tenha saído da delegacia ou das pancadas com alguma lesão na alma; se saíram, a aliviaram na companheira que dormia em casa.



Vou ter a moral de descobrir qual a temperatura daquela quarta-feira em São Paulo, segurem aí que vou ao site da Clima Tempo. Fui. Fazia 9º em São Paulo nessa madrugada, com sensação térmica de uns 6º; o silêncio agrava a atmosfera. Perceberam? Frio, a energia despendida por um sopapo, o risco de dois acessórios na testa, nada disso impede que os homens operem nessa área crítica que envolve a paixão e a sanidade; na minha inócua opinião um simples corinthiano desses vale mais que um artista melancólico ou o inventor de um remédio mágico. Como diz aquele poeta obtuso:



Viva aquele que se presta


A esta ocupação


Salve o torcedor* popular



*Compositor.




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