29/03/2007
Coisa incrível é a mania que todos temos por números redondos. Entra-se no trabalho às 08h00. Casa-se às 18, 19, 20h. Nalgum lugar que não lembro, tudo é marcado às 17h42, a empresa fecha às 19h36, e por aí afora. Há uma teoria que diz que tudo que é pontiagudo vai arredondando com o tempo. O próprio tempo deve ser redondo, de tanto rodar pelo meio, canto, lado, enfim, toda parte do mundo.
Romário quer 1000 góis. Não valem nada 900 e tantos. 1643 também não serve. Só 1000. Puskas fez 1.171, Pelé 1281. Zico 826. Dom Diego 358. Garrincha acho que não chegou a 300. Do jeito que Romário joga, ao melhor estilo “xícara” (os braços arqueados na cintura) e jogando até os 136 anos de idade, esses outros jogadores citados não fariam 1000, 800, 400, góis; fariam 5000.
Romário é um craque, por óbvio. Mas há nele aquele vício hediondo dos homens que se têm em altíssima conta, se sobre e auto estimam, se embriagando no excesso da própria concepção que tem de si; uma espécie de narcisismo com pitadas de Hércules. Os realmente notáveis, os “extra-série”, não fazem isso e os que fazem são liberados desta “convenção” por superarem a todos no que fazem – coisa que Romário nunca fez.
Inflacionariamente festejado pela conquista do Brasil na Copa de 1994, ele e a imprensa canhestra e pragmática, fazem deste título o “diferencial” entre ele e os demais “semi-deuses” que foram excelentes mas não conquistaram uma Copa do Mundo. Grande coisa. Zizinho, Dida, Jair da Rosa Pinto, Zico, Falcão, Sócrates Reinaldo, Gullit, Van Basten, Yashin, Baresi, Rummenigue e Platini nunca ganharam uma Copa e serão lembrados sempre; já campões como Mazinho, Mauro Silva, Dunga e outras entidades bisonhas que não sabiam nem respirar direito (só andavam porque viam os outros andando), foram campeões e, convenientemente esquecidos para todo o sempre.
Mas Romário é sorrateiro. Seguiu e desseguiu, inconsciente, o conselho dado a um pai sobre seu filho peralta: “Teme a obscuridade, Brás; foge do que é ínfimo, olha que os homens valem por diferentes motivos e que o mais importante de todos é valer pela opinião de outros homens”. Não bastando o conceito que outros homens faziam/fazem dele, ele aditivou ainda mais sua personalidade conferindo a si algo muito além de suas reais possibilidades. Um grande jogador, jamais um mito.
Escrito por Alex Menezes às 23h39
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