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Êta Mundão Danado, Sô

O mundo oferece diariamente vasta matéria para ser explorada em artigos e botequins. Esta passada foi particularmente prolífica. Lula rateou da sonora vaia que levou na abertura do Pan; é desses homens que só apreciam arrufos de paparico. O Brasil venceu a Copa América batendo a toda-poderosa Argentina por implacáveis 3 a 0; vitória que faz um mal danado ao futebol e um bem enorme à burocracia. O feioso e drapeado Cristo Redentor é mais maravilhoso do que a milenar Acrópole Ateniense e não houve abalos na Bolsa de Valores por conta desta insolência patriótica. As tropas do Paquistão invadiram uma mesquita em Lal Masjid e fuzilaram centenas de pessoas impregnas de fervor religioso e depois do viscoso sangue; essa vermelha e dolorida religião universal. Mas a semana começa com a terra “em dores de parto” tragando pessoas e casas no Japão. Desastres naturais matam muito; não tanto quanto a ignorância humana. Pouca sensação deve ser pior do que sentir o chão tremelicar sob os pés. Previsões científicas dizem que o Japão inteiro, como parte da Califórnia, pode ruir a qualquer tempo, mas gente humana, assim como a calamidade, não se importa com previsões sombrias, porque o progresso e a necessidade de uma nação importam mais que a vida de uns milhares de futuros mortos chacinados pela Terra que não sei se pelo tamanho ou se por oferecer abrigo gratuito, não pode enfrentar os tribunais. Não obstante, o país nipônico não produz apenas tempestades no solo; as autoridades daquele arquipélago estão intrigadas com envelopes anônimos deixados em banheiros públicos com esta simpleza de conselho: “Usar o dinheiro para fazer o bem”. São 80 dólares em cada envelope. Cerca de 400 cidadãos já foram contemplados e, diferente do que fariam os brasileiros como eu, entregaram à polícia o pacote inusitado. Deus nos livre um fenômeno deste ocorrer por aqui, porque se já causa terror parar o carro nos semáforos, ninguém de bom ou mau senso vai querer parar num banheiro público pretextando um pipi de emergência. Já a República Islâmica da Mauritânia que, por não exportar Pelés, samba, café, cocaína ou político-pinóquio resolveu entrar em cartaz com uma notícia vertiginosa porque bole com meus mais sagrados valores e o seus também; se aquiete aí. A moda naquele lugar é as mulheres serem gordas. Só é considerada sexy a donzela que cultivar o dom de desnortear os ponteiros das balanças que não pesam apenas peso, mas também prestígio. O caso já é tratado como problema de saúde pública. O governo faz campanha explicando que a gordura causa diabetes, pressão alta, etc; conta-se que as meninas de 5 a 19 anos têm de beber 18 litros de leite e quem se recusar é ameaçada não com foice ou chicote, mas com a perda de um dote, que, convenhamos, dói mais que uma lapada. Na França faz-se o cruel método do “gavage” para forçar os gansos a ingerir muita comida para a produção do foie gras. Tomo isso como exemplo para ninguém acusar os mauritânios de atrasados e incivis. É mais nobre produzir casamentos do que gastronomia. Antes que os puristas me acusem de irracional pelo temor público das doenças advindas da obesidade advirto que também os farmacêuticos têm direito a uma vida digna a bordo dum iate em algum balneário na Córsega. E assim segue esse mundão de sei lá quem; indiferente às agonias da maioria compreensivo e até cúmplice da alegria das minorias, afinal, já se disse, que todos chorando seria monótono e todos sorrindo, um escárnio. Escrito por Alex Menezes às 23h12

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