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(Quase)Todas as Coisas


Deus: Deus é imprescindível. Até para os ateus.


Alexandre: O Criador, cansado e aborrecido com ver os bárbaros (e os não “bárbaros” também) copularem em público e não enterrarem seus mortos, ordenou a nascitura de Alexandre; antes dele, tribos. Após ele, possibilidades.


Brasil: Um país sem projeto de nação, será um nanico no cenário político-econômico mundial (0,8% de participação no comércio mundial!) graças à ferocidade inculta de uma classe política que, infelizmente, deixará herdeiros. Por chalaça, consultei um geneticista para saber em quantas gerações se dizima um gene ruim. “Umas 15”. Então teremos de suportar vários tataranetos de ACMs e Sarneys. Só daqui 15 gerações será possível sonhar.


Hitler: A face do mal no século XX, Hitler sofria do que Freud chamou de “Complexo de Messias”, mal que acomete líderes e até alguns artistas. Ele tem um mérito que nenhum historiador sagaz se propôs ou teve coragem de dizer: o nefasto alemão fez todos verem que a Europa, cantada em prosa e verso por positivistas, cientistas e pelo alto clero religioso como o celeiro e modelo da cultura ocidental para o oriente, perpetrou o maior massacre humano de que se tem notícia nas duas Grandes Guerras. O maior açougue humano da História. Claro que as tribos da África, se tivessem acesso à tecnologia, causariam estrago maior --- me perdoem, mas não sou nada sem a contradição.


Chico, o Buarque: Vivem dizendo que ele não canta bem. Bah! Einstein maltratava a empregada, Leonardo tinha mau hálito. O maior mérito dele e de qualquer homem de bom senso é zombar de si pelo o que ouve dos outros: “Quase rodando/ caindo de boca/ a voz é rouca/ mas o mote é bom”, ou: “Não querem mais ouvir as minhas mazelas/ e a minha voz chinfrim”. Na sua área de atuação, não deve um centavo ao mau patrão ou ao bafo-de-onça italiano. Se muita gente não gosta dele, azar da muita gente.


Maradona: Não há, houve ou haverá alguém que se achegue a Diego. Vê-lo jogar equivalia a uma epifania de Mozart. Como um país letrado e culto como o argentino, que produziu Gardel, Borges e Cortazar, pode ter num reles futebolista sua glória maior? Pelé, burocrata da bola e de caráter anti-heroico, jamais alcançará o céu olímpico de Diego, pois, quando o videoteipe se tornar obsoleto no futuro, se dirá que Diego chutava a bola sem nela tocar. Dom Diego.


Machado de Assis: Como diz um amigo, Machado olhava para aquela sociedade hipócrita na qual ele habilmente se infiltrou e dizia: “Sou preto, mas sou mais inteligente do que vocês.”


Ayrton Senna: Amo o Ayrton, sua história. Duas coisas, todavia, não me saem da cabeça, quando o médico-legista Franco Baldoni, do Hospital Maggiore, disse, após autopsiá-lo: “Era apenas um rapaz que usava roupa com propaganda de cigarros.” Era um gênio. Nada me tira a ideia de que o acidente que o matou não foi causado por falha no sarcófago que pilotava, e sim por se achar indestrutível, um demiurgo mesmo. Aquilo de falar que viu Deus num GP… Se o Profeta Elias, que era o Profeta Elias que “subiu num carro de fogo aos céus” (2º Reis, 2, XI), não viu a Deus, por que o tricampeão O veria?


Freud: Revolucionou o mundo. O mundo da elite ocidental, quero dizer.


Aborto: Dói dizer, mas, nalguns casos, é necessário. Que me diz de um Hitler abortado?


Lula: A afirmação última e insofismável de que o homem é fruto do meio em que vive.


Morte: Tenho pleno convencimento do estado de letargia que é a morte. Duvido que ela seja pior que a vida; não é. Lázaro talvez tivesse se aborrecido com Cristo, quando foi ressuscitado: não disse uma palavra sobre o que há ou o que não há do lado de lá, prova irrefutável de que ela não é nem Paris, nem o Capão Redondo.


Carlos Drummond: Gênio. Não alcançou Rubem Braga na crônica, mas foi um poeta sublime. Sua pequena Itabira rima com Estabira, terra natal de Aristóteles.


EUA: Dói ver gente de gabarito descer o sarrafo nos americanos. O mundo deve a relativa paz que existe a eles! Que acham que aconteceria se eles não tivessem entrado na 2º Guerra? Viveríamos no mundo com a ideologia totalitária da URSS e o vocês-sabem-o-quê do Nazismo. O EUA é aquela mulher linda que a outra mulher linda admira e diz que não admira, por necessidade e instinto humano. A História mostra que sem um Império-Policial, o mundo se torna inviável.


Kafka: É como um excelente remédio ruim. Comparo Kafka àquele remédio que minha mãe me dava, aquele que tinha um homem com um peixe nas costas; amargo, trava na boca, mas emula o espírito para enfrentar e aceitar a trágica aventura humana na terra. Não há dúvida de que a vida é uma tragédia; se ainda não é, calma, é só uma questão de tempo. Kafka, uma das glórias da nossa civilização.


Dinheiro: Poucas coisas me causam mais repulsa do que o dinheiro. Só o fato de ser-se obrigado a fazer o que não se gosta para ganhá-lo é um bom motivo para eu desprezá-lo; ganhá-lo? Ele é que me ganha todos os dias, e machuca saber que não irei vencê-lo jamais. Enfim, para quê juntá-lo se não fui eu quem o espalhei?


Amor: Machuca, essencialmente. Quando verdadeiro, deve latejar até o último suspiro de vida. Mas, em regra, não há retribuição a esse tipo de sentimento, e daí se explica um pouco a devassidão, ainda que íntima e não pública, a que se entrega a sociedade em qualquer parte do globo.

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