Hoje é um dia histórico. Estou embriagado. Li tanta matéria sobre a nova tecnologia da TV Digital que fiquei com dor de cabeça no corpo inteiro. Não é para menos. A televisão foi uma das maiores invenções do século XX; aproximou mundos, ajudou a construir um império, celebrizou muita gente medíocre, catapultou um sicofanta da obscuridade alagoana para o palácio do Planalto; enfim, fez e aconteceu: a televisão se tornou o principal ícone popular e influenciador do século passado e só perderá sua hegemonia na aurora deste novo milênio para o computador, que também é uma televisão só que com uma língua externa, vulgarmente chamada de teclado.
A primeira revolução que o novo sistema de TV irá causar é no caixa das grandes empresas com a venda do codificador porque o capitalismo carece ou de ideologia para fomentá-lo ou de abuso de lucros.
Mas o grande barato-caro talvez seja a mobilidade que a nova tecnologia trará; ver TV no trem via telefone celular, no ônibus, no parque, onde se estiver. O perigo se esconde nesse talude invisível. Pesquisas norte-americanas mostram que a dependência de televisão atinge níveis alarmantes, causando obesidade, fadiga ocular, etc. Levaremos pílulas de vícios nos nossos bolsos.
Bons ventos podem soprar. Como a geração de conteúdo se tornará mais dinâmica e, em tese, mais democrática – como já ocorre timidamente na Internet que já produz algum conteúdo – há uma possibilidade ainda que remota de os programas se preocuparem com temáticas mais inteligentes (mesmo que sendo obrigada a manter a grade idiotizante para que o negócio sobreviva) e de tal sorte fazer com que a telinha mágica desempenhe um papel não apenas midiático ou informativo, mas, sobretudo, educacional, meio ímpar de se forjar uma nação equânime, livre da chaga da ignorância que faz o Brasil ter um lugar (Foz do Iguaçu) com 251 homicídios por 100 mil habitantes, a Suíça deve ter 0,1 homicídio por 100 mil; mas para que rumo vai este país quando, segundo pesquisa do instituto Ipsus, 50% dos brasileiros não sabem localizar o próprio país no mapa? Para 87% dos entrevistados a Argentina fica na Mongólia e o EUA faz fronteira com Netuno.
Esse será o grande desafio da nova TV. Não, como propalado por “formadores de opinião”, que com a TV Digital se poderá comprar com um click a gravata que o William Bonner apresentar o jornal, ou o batom ocre da Glória (?) Maria, mas que com ela aja, a nova TV, um deslumbre, um alumbramento mesmo, como (comparação incoesa...) o frenesi causado em Rembrandt quando avistou cópias (cópias!) de Caravaggio e a partir dali pintou as melhores telas do século 17; quem sabe não aja escondido nesta “aldeia brasial” um Rembrandt louco e apto para pintar, com a ajuda inexorável da nova TV, um quadro mais proeminente do Brasil não para esta geração, que está condenada, mas para as futuras, que ainda sem existir anda ávida para limpar a barra do atual quadro caótico perpretado por um conjunto de contemporâneos tão ruins que nem uma infusão relâmpago de boas mentes poderia salvar da iminente tragédia.
Escrito por Alex Menezes às 00h08
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