Por não ser muito conhecido, cumpre-me informar que Prometeu não é a flexão do verbo prometer. O lendário Prometeu foi um dos titãs, o único dos deuses que amava os homens; já Suzane dispensa apresentações, tão ostensiva foi a atenção que a imprensa (e agora eu) deu a ela que é até possível que todos saibam qual a seqüência genética do seu dna dela.
Breve história de Prometeu: numa contenda no Olimpo, Prometeu traiu os deuses, pois roubou de Hefesto o segredo do fogo e o trouxe à terra para salvar a humanidade. Zeus condenou o pobre Prometeu de forma peculiar; acorrentou-o nos desfiladeiros do Cáucaso ordenando que uma águia todas as noites lhe devorasse o fígado; este se regenerava durante o dia para tornar a ser lacerado à noite. Qual a vingança de Prometeu? A indiferença. Mas chegou o dia em que todos se cansaram daquele processo sem fundamento; os deuses, as águias, e o próprio Prometeu. Então, os deuses esqueceram da traição, as águias de comer e a lenda se esqueceu nos séculos.
Chico Buarque de Holanda, num de seus versos seminais, diz: "A saudade é pior que um parto/a saudade é arrumar o quarto/ do filho que já morreu". E arrumar o quarto dos pais que se assassinou, como deve ser?
Suzane traiu não apenas os homens, traiu o sentido natural das coisas; traiu-se a si própria. Julgamentos, pichações ao nome dela, xingamentos, três décadas de cadeia, nada dissolverá nem expiará o seu ato imperdoável. Seu castigo não será a privação da liberdade; muitas vezes livres, nos sentimentos presos. Parece poesia, mas não é. Tal qual as águias de Prometeu, a renovação diária e permanente daquela rotina extenuante de fígado comido e regenerado, fez perder o sentido da pena. Acordando e dormindo na cadeia por longo tempo, Suzane terá seu fígado renovado para ser devorado pelo dia seguinte (os dias serão suas águias) que se sucederão indefinidamente uns aos outros como as ondas do mar, e quando ela se livrar das grades, não se livrará dos dias.
Hércules acabou por salvar Prometeu. Mas quem salvará Suzane? Diante da atrocidade do seu crime, por mais dissimulada e fria que ela possa ser/parecer, ela há de gemer no seu íntimo por todos os dias de sua triste vida e só encontrará a paz quando Deus apagar seu nome do registro dos mortos.
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