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Sonhos de Uma Noite Sem Verão

Não sei quais são as suas fobias. A minha maior é de não ter o que ler enquanto ligo para um 0800 qualquer: entro em pânico. Há que tenha medo de não encontrar o significado dos sonhos. Existe a agorafobia, medo de lugares abertos, a alectorofobia, medo galinhas, iatrofobia, medo de médicos, dikefobia, medo da justiça (!!) e a lulllaterceiromandatofobia, que não carece de legenda, só de sustos e perdigotos. O medo de ter sonho estrambótico eu não sei qual é. Vou abrir um inquérito.


Uma amiga me narrou um sonho espetaculoso com insetos (entomofobia), que lhe grudava na roupa e ela, apavorada, sacudia a silhueta como quem pretende se desvencilhar do corpo e deixá-lo a mercê do perigo, tal qual ocorre nos desenhos animados. Deve ser nessas horas que ansiamos que o corpo tenha presença de espírito.


- Olha só.


- Olho.


- Tive um sonho muito estranho. Eu estava cheia de carrapatos! Vou entrar no Google pra ver o que significa.


- Deve ser um aviso; li que na mitologia asteca, ou maia, ou ibérica, ou na mitologia caseira da minha vó que isso significa que você vai descobrir os segredos da pessoa próxima.


- Ha ha ha. Fala sério!


- É sério, minha vó nunca erra sobre sonhos...


Minha amiga ficou desconsolada com a interpretação: rala demais, sem aquele aspecto cinematográfico que, em regra, dá um lustre de fantasia a fantasia. Se fosse ao menos um aviso de uma catástrofe, como as sete pragas do Egito vá lá, mas descobrir os segredos dos outros? Não tem graça. A não ser que...


Para tudo deve a ver uma razão (haver, não?); se alguém tem um sonho ruim, logo quer esquecê-lo, por necessidade ou superstição. O que ocorreu à minha amiga foi o que os curandeiros chamam de “lapso intermemorial sônico do distúrbio ortomolecular congênito”, um mal que acomete pessoas muito ativas, inclusive na hora do sonho. Num sonho acordado:


Entrei num túnel com paredes de marshmelow e nele tinha uns rinocerontes com aroma de espiga de milho no outono; retrocedi atônito receando que ele explodisse com o calor que vinha de um gêiser que expelia labaredas de neve; corria de trás para frente mas meu corpo se deslocava de lado: tinha então patas de caranguejo, dei um grito estereofônico que desfez em cristais as patinhas, que eram de vidros da boêmia; da boêmia sim, pois percebi a etiqueta azul que era a íris do olho do furacão...


- Vovó, sonhei que...


- Não precisa dizer, eu era o olho que você confundiu com um furacão.


Isso é o que dá quando sonhamos acordados: os espectadores participam como atores dos enredos desprovidos de noção.




Escrito por Alex Menezes às 15h28


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