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Reunião, Música e a Fé de Não ter Fé


“Tocando piano parece que o mundo é suportável”, me nos falou esta noite o professor Leandro Karnal numa aconchegante reunião “tertúlia”, como disse a anfitriã, logo após ele brindar os convivas com nesgas pianísticas de Mandelson, Mozart, Beethoven, Ravel, Wagner, Villa-Lobos, e alfim, Tom Jobim, “Anos Dourados” – “Parece que dizes/ te amo/ Maria tan tan tan...”. Quando a partitura intrincava, o som não fenecia.


Reuniões tais são propícias a digressões. Fala-se das idas e vindas das vidas que travam, que emperram na brevidade necessária da morte. A ausência de Deus é tema predileto. A presença Dele também.


Lennon, na triste e contundente “God”, fulmina:


God is a concept,


By which we measure


Our pain.


Algo como “Deus é uma concepção pelo qual medimos a nossa dor”. Após o início ambivalente, entre telúrico e divinal, vem uma enxurrada de “I dont believe”: (eu não acredito)


I don't believe in magic


I don't believe in I-Ching


I don't believe in Bible


I don't believe in Tarot


I don't believe in Hitler


I don't believe in Jesus


I don't believe in Kennedy


I don't believe in Buddha


I don't believe in Mantra


I don't believe in Yoga


I don't believe in Kings


I don't believe in Elvis


I don't believe in Zimmerman (Bob Dylan)


I don't believe in Beatles


I just believe in me


Yoko and me


Não acreditar em nada é ainda uma forma de tornar próximo de si a razão, porque ao menos nele próprio o indivíduo deposita fé; não se pode negar a existência, pelo menos a própria – quando se está sóbrio. Lennon fez uso dos principais ícones culturais seculares com o fim de desmistificá-los, arrancá-los do pálio donde estão enraizados. Todavia ele crer no amor, “eu acredito em mim/ Yoko e em mim”.


Descrer é diferente de dessentir; Lennon nega, mas sente. Igual fazem os agnósticos, os ateus, os deístas; negam ou aceitam a ciência a fé a filosofia como explicação ou complicação para o etéreo. O que conta no fim é sentir, cantar, ter os amigos por perto. Crer ou descrer não nos torna nem brilhantes nem opacos, nos torna humanos.


And so dear friends,


Então Caros amigos


You just have to carry on


Temos de ir levando


The dream is over...


O sonho acabou...





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