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Quase Solidão



Solidão já vi pior, de endoidecer gente sã, disse um poeta. A solidão. Já se disse muito sobre ela, que era o mal do século, inclusive. Como zínias que decoram o jardim – me dê um segundo, suspendamos o texto, “zínia” merece uma explicação: ignorava a palavra até dias atrás; assistindo ao filme Conduzindo Miss Dayse, a “rabugenta” Miss Dayse, a estupenda Jéssica Tandy, pergunta ao grande Morgan Freeman, no papel do motorista Hoke:



- O que você faz aí? – pergunta ela impaciente.


- Estou cuidando das suas zínias, Miss Dayse.


Pronto. Bastou isso para as zínias entrarem na minha vida. Descobri que no Brasil ela é chamada por canela-de-velha e moças-e-velhas. Onde paramos? Ah, “como zínias que decoram o jardim” foi aí que paramos; não paremos mais. Como elas, a solidão solapa e incomoda, atreve-se a nos maltratar, solidão maltrata.



Aristóteles dizia que apenas as feras e as divindades podiam suportar a solidão. Sei não se o Ari tinha razão, que acha você? Verdade é que, ministrada em doses homeopáticas, um pouco dela faz algum bem, e até um grande bem. Embebido em solidão o poeta faz belos versos; maus versos se fazem também em companhia, boa ou má.



A solidão do sujeito solitário é o que eu chamo de subespécie de solidão. Chega o homem em casa, já sonhando com a solidão a lhe esperar, ansiosa e sedutora, acende a luz da sala, ela (a solidão) lhe acolhe, pergunta do seu dia, faz inquirimentos de mulher ciumenta, mas ele a destrói num tatear: liga a TV. Quando os livros puderem ser ligados, a civilização dará um salto qualitativo.


Existem remédios eficientes contra a solidão os quais não receito por não ser solitário, ou não achar ser, o que é diferente, o que é quase uma desonra. Como ser solitário tendo uma infinidade de palavras para dialogar? Mas palavras não são pessoas, dirá a leitora sensata. Gosto de conversar com meu irmão e minha mãe, dirá aquela outra, impaciente com minha dissertação.



Se avexe não, quando sentir assim, umas “agitações” de solidão dentro de você, busque refúgio nalguma terapia alopática que é mais segura e não tem seqüelas; se não der certo, regresse ao século 16 e converse com Camões: “É um andar solitário entre a gente, etc., não lembro mais o resto dos versos, devem ser os efeitos da solidão; alto lá, mesmo num texto sobre a solidão escrever 12 (e agora 13) vezes, fora o título, o nome solidão, já demais, vou dar o fora.




Escrito por Alex Menezes às 23h48


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