A nova gravação do clássico, Planeta dos Macacos: A Origem, do diretor Rupert Wyatt, é a mais humana já feita. À parte a espetacularidade dos efeitos especiais, o filme diz muito mais com psicologia animal do que com as estonteantes imagens de símios produzidos em computador.
James Franco (impecável) é Wil, um cientista inquieto que descobre uma vacina revolucionária contra o Alzheimer que tem como efeito colateral positivo, a potência da inteligência. Pelos caminhos do roteiro, a fêmea infectada com a droga causa um acidente e é morta; seu filhote é clandestinamente criado por Wil, que passa a se surpreender com a inteligência do bicho.
A saga do macaco que ganha consciência de sua condição de macaco é sua perdição e sua glória. Em sendo apenas macaco, o animal não contrai as mazelas da racionalidade, que tem como crucial sintoma o desabrochar das injustiças.
Interessante observar que, mesmo quando Cesar (o nome do macaco) passa a conviver num abrigo de macacos, também é hostilizado por ser diferente, igual acontece no mundo dos humanos, com a vantagem de os símios não terem o requinte do mal para oprimir.
Outro dado curiosíssimo é que a empresa onde Wil trabalha é uma mega corporação. A ironia estranha é que o chefe do protagonista Wil tem a mesma cor dos macacos; é negríssimo. É estranho porque o estereótipo desses tipos no cinema são homens de tez alva; "in albis", como prefere um intelectual amigo meu.
Se os roteiristas buscaram no inusitado uma forma de ironizar a ironia, correram sério risco de passarem por politicamente incorretos.
A graça do filme está no desapego e na adequação que Cesar faz da sua inteligência, pois ele não quer rejeitar seu destino e sua condição, mas compreendê-lo até se revoltar contra os humanos; portanto, não poderia ser outra a primeira palavra que ele profere: um sonoro gutural “Não!”
Há cenas comoventes, feitas sob medida para emocionar. Muitos críticos disseram que o “olhar humano” de Cesar é o ponto alto do filme; não é. O animal parece esteticamente com o humano, anda tal qual, mas quando se apercebe que vai ter os vícios dos humanos, prefere se exilar na floresta, intuito claro de não se contaminar com o que há de pior em nossa espécie: a debilidade de sermos o que somos.
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