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Palavra-Prima

Palavra prima – matéria minha criatura Palavra

Que quer dizer – tudo

E que me escreve desatento Palavra...

Palavra viva, Palavra com temperatura Palavra

Que se produz, muda

Feita de luz mais que de vento Palavra...



O que é a Palavra? Esse ente imaginário meio órgão, meio ser; ser porque como tudo o que vive nasce, cresce e morre; órgão porque reside no mais íntimo de nós e carece de cuidados, como o coração. É impalpável: feita de vazio, de som e nada mais.



Ludwig Wittegeinstein (que se não tivesse um nome tão complicado seria pop) disse que “O limite do meu mundo é o limite da minha linguagem”. Quando pensamos, raciocinamos com palavras e quanto maior o domínio sobre elas, mais fáceis e aguçados serão os pensamentos, em tese.




Em sua mais longa peça, Shakespeare faz Hamlet declamar (só ele) 11.610 palavras. Em suas 37 peças, são citadas cerca de 30 mil palavras diferentes! Fato que faz com que alguns críticos atestem que ele, sujeito de origem humilde, filho de um vendedor de luvas, nascido no vilarejo periférico Stratford-Upon-Avon não poderia ter escrito as peças atribuídas a ele, dado seu vastíssimo vocabulário, esquecendo-se que o conhecimento é um bem que está a alcance de todos.




Já Machado, em Memórias Póstumas escreveu 5.726 palavras diferentes; uma pessoa com cultura média fala de 5 a 6 mil palavras diferente durante a vida inteira. Em 176 páginas, o gênio condensou uma vida inteira.



Existem duas espécies de Palavras:





Palavra-espírito:



1. Costumo dizer que a Palavra-espírito (falada) é o único órgão (assim como o tempo, considero a palavra um ser) que não nos pertence, pois quando a pronunciamos ela se hospeda no ouvido do interlocutor e ainda quando pensamos que falamos sozinhos, as palavras se hospedam nos ouvidos do ar.



Palavra-matéria:



2. A Palavra-matéria (escrita) tem igual função e não pertence mais a quem lhe deu corpo físico transpondo-a no papel; o chip que faz a conversão do pensamento em palavra intercala o divino com o teráfico.



Palavras há que saboreamos ao falar e ao ouvir; elas parecem anteceder àquilo que dão nome como li-bé-lu-la. Veja se não é uma palavra mágica, sem travas como a palavra travas, que flui na língua feito mel na colméia (melíflua?), ou na boca, veículo da Palavra, ela é límpida; cada das quatro sílabas parecem não serem dominadas por consoantes más, pois nesta Palavra elas ganham a delicadeza da pétala; virtude ímpar das vogais. Piauí também seria uma palavra bela, não fosse esse p intruso. Aurélio é outra palavra-xodó: concentra em si as cinco vogais do alfabeto (auaeo).



Palavra dócil, palavra d´água pra qualquer moldura

Que se acomoda em balde em verso em mágoa

Qualquer feição de se manter Palavra...

Palavra boa, não de fazer literatura palavra

Mas de habitar – fundo

O coração do pensamento palavra...





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