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Os Títulos Inesquecíveis





Tem autor que é melhor de título do que de obra. Kafka é bom de ambos. Veja: “O Castelo”, que em francês na primeira tradução que eu li antes da excelente do Modesto Carone direto do alemão, fica “Le Chateau”: belo e sonoro. Depois “Narrativas do Espólio” que ainda não li, mas o título é de arrepiar. Depois “O Processo”, ótimo e “A Metamorfose” aí já uma cópia do poeta romano Ovídio. Raduan Nassar, que apesar do nome é brasileiro é um mestre, absorva isso em seu olho e mente: “Um Copo de Cólera” e “Lavoura Arcaica”, estupendos!, e que remetem à sua obra algo incestuosamente rural. Machado é fraco de título, se sai melhor nos contos. Ou, como quer meu professor, “são títulos descritivos”, mas “Dom Casmurro” é lindo, e tem ainda a advertência do autor: “Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhes dão”. Dostoieviski talvez seja o campeão: “Memórias do Subsolo”, “Noites Brancas”, “Recordações da Casa dos Mortos”,”O Idiota” (o seu tocante príncipe ético). Shakespeare é páreo ao russo: “A Tempestade” estonteia pela força e simplicidade; “Sonhos de Uma Noite de Verão”, “Otelo”. Nietszche é ardiloso: “Ecce Homo”, “O Anticristo”; ”Super Homem”. Willian Faulkner é fantástico: “O Som e a Fúria” e John Steinbeck com o fabuloso “A Leste do Éden” que ele deve talvez ter tirado do Gênesis: “Caim foi embora da face de Jeová Deus e foi morar na terra da Fuga, ao leste do Éden”, Gen. 4:16. O livro é uma dura metáfora à decadência do homem enquanto criação. – malsucedida?


Nabokov esnoba: quem pensaria em “Fogo Pálido?”, “Lolita” evoca uma meninice sapeca, como a da personagem. Goethe: “Os Sofirmentos do Jovem Werther”. Oscar Wilde não é tão brilhante, mas tem o “A Importância de Ser Sério”. Zola tem “Germinal”, mas a carta-libelo “Eu Acuso” é mais forte. E este é um espanto, de Ítalo Szvevo: “A Consciência de Zeno”. Baudelaire e as “Flores do Mal”. Virginia Woolf: “As Ondas”. Borges e “O Aleph”, e esse então: “O Morro dos Ventos Uivantes” de Emily, Anne e Charlote Brontë, as três irmãs. “Cidades Invisíveis” de Ítalo Calvino. “Amor de Perdição”, Camilo Castelo. Josef Conrad inquieta: “No Coração das Trevas”. Quem não treme diante de “O Nome da Rosa?”, Umberto de Eco. “Cem Anos de Solidão”, de Garcia Marques. “Admirável Mundo Novo” de Huxley, transborda. Maiakoviski e suas “Nuvem de Calças”; “A Montanha Mágica” de Thomas Mann é quase insuperável. “Paraíso Perdido” de Milton, encanta, apesar da dureza do enorme poema de 10 mil versos. Quem não pára diante de “Dr. Jivago” de Pasternak? Eça entra com sua “Ilustre Casa de Ramires”, escrito às pressas para contrapor o Dom Casmurro. Camus é forte: “A Queda”, “A Peste”, “O Mito de Sisífo”. Marcel Proust: “Em Busca do Tempo Perdido”, quem já não? “Versos Satânicos” que valeu quase a morte de Salman Rushdie, nada tem a ver com o título, que mete medo. J.D. Salinger é mágico: “O Apanhador no Campo de Centeio”, título que ficou melhor em português que em seu original inglês “The Catcher in the Rye”, intraduzível. Saramago também: “Memorial do Convento”, “A Jangada de Pedra”. “Pais e Filhos” de Turgueniev.


Dos brasileiros, “O Quinze” da Raquel. “Amar, Verbo Intransitivo” de Mario de Andrade diz mais que a obra. Manuel bandeira e “Itinerário de Passárgada”. “Cão Sem Plumas” de João Cabral podia ter as páginas em branco; “Quase Memória” do Cony, é ótimo. “Os Sertões” de Euclides. “O Cheiro de Deus” de Roberto Drummond. E por fala nesse sobrenome: “Brejo das Almas”, “José”, do Carlos. “Poesia-experiência” de Mario Faustino. Ruben Fonseca: “Agosto”. Milton Hatoun também é bom: “Memórias de um Certo Oriente”. Rosa: “Grande Sertão: Veredas. Lispector: “A Maçã no Escuro”. Lobato: “Reinações de Narizinho”. Vinicius: “O Caminho para a Distância”. “Canoas e Marolas” de Gilberto Noll. “A Rosa do Vento”, Nélida Pinon. “Agonia”, romance inacabado do autor de “O Ateneu”, Raul Pompéia. “Quarup”, Antonio Callado. “Angústia”, e seu início asfixiante, de Graciliano Ramos. “O Sorriso do Lagarto” de João Ubaldo. “A Pedra do Reino” de Suassuna. “Olhai os Lírios do Campo” é de chorar, Érico Veríssimo. “Ciranda de Pedra” da Linda Lygia Fagundes Telles. E “Fernão Capelo Gaivota” que não lembro de quem é, ficou muito título de livro impregnado na cabeça; chega.





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