Estreou com grande estardalhaço o filme “Os Simpsons”, de Matt Groening. Fui ver, correndo.
Li para caramba um monte de artigos sobre a maluca família norte-americana que dá o que falar a 18 anos. Qual o segredo de uma turma que tem no politicamente incorreto seu grande charme e poder de sedução?
A resposta talvez seja a de que eles fazem o que gostaríamos de fazer: debochar das instituições, do próximo, das religiões, da própria existência e ainda estar e ficar felizes. O que é o Homer senão o acúmulo de sagacidade e destemperos que tempera este século cheio de barbaridade? Homer, por ser o mais estúpido membro da família, da cidade e por extensão, do mundo, é paradoxalmente o mais feliz de todos. Não há nele freio moral, ético ou algo que barre sua incrível capacidade de produzir estupidez; o segredo da felicidade consiste em não levar a sério a existência, própria ou alheia.
Bart Simpson, a personagem que eu mais gosto, tem aquele ar docemente diabólico, capaz de tiradas impagáveis e de não respeitar nem sequer sua vida, que dirá a dos outros. Lisa, a intelectual da família, é encantadora, mas racional demais para ser levada a sério.
O sarcasmo dessa família impede de classificá-la de modo estático: já se escreveram livros, teses, tratados filosóficos e até o austero dicionário de Oxford na Inglaterra colocou na galeria o indefectível “D´oh!” de Homer Simpson que não tem qualquer significado exceto o de exprimir a sensação de que fez ou falou uma asneira qualquer.
Outro segredo é que tudo em Springfield é imutável; não sofre os efeitos do tempo: a pequena Maggie continua bebê mesmo tendo 18 anos de vida; Bart e Lisa não saem da 4º série e a barriga flácida do Homer não cresce embora coma de tudo: de tijolos a polipropileno. Essa técnica de imutabilidade faz com que cresçamos com as personagens sempre do mesmo jeito, pois eles são contrários a tudo: à lei natural do tempo e a todas as convenções sociais.
Os Simpson revelam não apenas o modo de vida norte-americano, revelam também o ser humano de forma despojada, destituído de máscaras, fazem em episódios de 30 minutos o que estudos sociológicos gastam anos e milhares de páginas para explicar e dissecar. Vida longa à família Simpson, vida longa a estupidez humana, matéria-prima que alimenta a série de TV de maior sucesso de todos os tempos.
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