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Ode às Baratas

Ninguém consegue desvendar a alma das mulheres à exceção dalguns poetas e de Deus que as criou e tem em Seu poder o manual só para Si. Freud tentou. 30 anos depois, escreveu: “Em meus trinta anos de estudos, não consegui descobrir o que quer uma mulher”.



Pobre pai da psicanálise: o segredo está na barata.


Diante duma barata a mulher se faz descobrir, se mostra sem pudor, esquece o penteado e o vestido, evoca com força máxima o poder eufônico das pregas vocais. Os divãs deveriam ser em forma de barata. Seria menos penoso o trabalho dos terapeutas.



Elegi minha irmã (não a conheço muito, leitora) como a rainha das mulheres que odeiam baratas. Odiar é um eufemismo: ela perde os sentidos por uma barata; sem dúvida, iria jantar com a dona Morte se tivesse de escolher entre uma e outra.



As cenas que presenciei merecem uma epopéia. Se aparecia uma barata no quarto dela, ia dormir na casa da titia (titia?), na rua, pedia para chamar o corpo de bombeiros, o exército, a marinha a aeronáutica. Menos vai. Mas era quase isso.



Um dia as vi a ambas; ela e a barata, um momento antológico. Ela, feito estátua, aterrorizada, sem atividade cardíaca, o sangue evaporado do corpo porque anêmica. A barata na dela, quieta, na sua atitude de barata, barateando suas baratices, pronta para se despedir da vida na forma nobre das baratas: com uma chinelada. Quem nunca chinelou uma barata que atire o primeiro Baygon.



Barata voadora então é brincadeira; é o pavor elevado ao cubo. Nem uma junta de Freuds seria capaz de descrever os fenômenos que se agitam dentro das mulheres diante duma barata alada. Como o Rosa, ainda não vi cavalo com soluço, (na verdade nem cavalos tenho visto), mas já vi muita mulher perder a classe por causa desse bichinho tão asquerosinho, tão nojososinho.



Se um sujeito salva uma mulher de um assalto, é um homem corajoso, se a acompanha na novela é sensível, se não joga bola aos sábados é dedicado, se lhe acompanha nas compras de sapatos (porque se fazem tantos modelos de sapatos para as mulheres? Resposta: para enlouquecer os homens) e se “se cuida” é metrossexual, ou, mais na moda, “überssexual”. Mas se o sujeito salva-lhe duma monstruosa e perigosa barata de 3 cm e 0,9 gramas de peso é elevado à condição de herói supremo.



Eu, que não tenho laivos de poeta nem de psicanalista, deixo-me estar apenas a contemplar a natureza intrigante desse espécime intraduzível, cheio de nuances e sutilezas, e para terminar essa crônica, recorro a um tremendo verso do Tremendâo: “Mulher/ mulher/ na escola em que você foi ensinada/ jamais tirei um dez/ sou forte, mas não chego aos seus pés...”.


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