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O Silêncio de Deus





“Onde estava Deus?”. O intelectual alemão Josef Ratzinger, e por contingência litúrgica papa, fez essa pergunta ao visitar em 2006 um campo de concentração nazista. Richard Dawkins, o cientista que quer o assassínio de Deus, em recente entrevista ao jornal Estado de SP respondeu ao repórter que lhe questionou sobre o conforto que os familiares têm na crença de um Deus ou duma religião em acidentes como o da Tam: “Se há um Deus que permite esse tipo de tragédia, ele tem de ser repudiado”.


Vamos partir do pressuposto de que há um Deus; pode ser o Deus-Natureza de Spinoza (um judeu excomungado) que se manifesta nas leis naturais; o ou “Deus” de Aristóteles, que é dualista: é negado e afirmado e por isso transcende e aflui no próprio “pensamento”; é o motor do mundo. O Deus do Velho Testamento é, segundo Harold Bloom, sedento de sangue, ironista, ciumento, exclusivista. O poeta inglês Wiliam Blake chamou esse Deus de “Nobodaddy” (Pai de Ninguém). Vamos, todavia, em busca do “Deus Universal”; aquele a quem clamamos na agonia, alheio a crenças, dogmas e etnias, o popularíssimo “Ai meu Deus”, útil em qualquer ocasião de perigo.


Sendo esse Deus o “pater família”, construtor e arquiteto do que é vivo e inanimado, dador da “benignidade imerecida da vida” não pode ser ele responsável nem subvencionar os homens e suas ações; deu a vida, cessa sua obrigação de tutela. A dúvida de Ratzinger e a diatribe de Dawkins se amparam num equívoco secular que é culpar Deus pelos infortúnios humanos; aos que têm fé, a dúvida; aos que não a tem, a aniquilação do divino por meio do ateísmo.


Ainda, sob a hipótese de haver Deus, o livre-arbítrio nos torna aptos a tomar decisões com a condição de sofrermos seus efeitos. Há guerras? advento humano; fome? Idem. O que é humano e muito humano é apenas o regozijo nas benesses não sendo tolerado o tributo que não raro vem em forma de alguma calamidade pública ou privada.


Não havendo Deus, tudo se torna menos volátil. O acaso é a vanguarda. O sentido perde importância e tudo é controlado por cálculos, dirigido por hipóteses e carbono-14; a essência é a razão depurada com doses de racionalismo forjado nos bancos universitários, as catedrais do conhecimento que substituiriam a única arma dos pensadores da Antiguidade contra os mistérios inescrutáveis da Natureza: a observação lógica.


Deus, como fruto de milenares tradições culturais é ao mesmo tempo fonte, delta e resultado de tudo o que hoje há; do pão com ovo ao micro chip; não há notícia de quaisquer civilizações que na tenham adorado um deus sob a forma de sol, plantas, estátuas, mar; é infinda a lista; as sociedades se organizaram em torno de divindades; dos Astecas aos zulus, dos egípcios aos fenícios, sempre houve um Deus que os norteou e baseou como a magnetizar a necessidade do sobrenatural para suportar a aridez dulcíssima da existência.






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