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O Pato Somos Nós



Gosto de comida e de histórias. E por obra suma destes dois hobbys, não pude resistir, enquanto comia, à do restaurante parisiense Tour D´argent, o mais antigo de Paris, fundado em 1582; ...1582, portanto 82 anos depois d´os portugueses virem aqui saquear e semear com presidiários e maus políticos a Terra que de Santa não tem nada, mas de Cruz tem até os pregos e os lamentos.


O charme do restaurante é que, a partir de 1880 uma alma inspirada, um garçom iluminado pelas chamas de um fogão divino, resolveu numerar a especialidade da cantina (“cantina” equivale a profanar a religião gastronômica francesa); um certo pato que fazia um sucesso maior que o Tio Patinhas entre aquela população que tilinta quando se encostam, o misterioso Povo das Moedas. Foi um sucesso estrondoso a idéia de numerar as aves.


O príncipe de Gales, futuro rei Eduardo VII, degustou em 1890 o pato nº 328, Theodore Roosevelt o nº 112.151 em 1930, sinal que bastaram 40 anos para cento e tantos mil patos perecerem na mesa; um holocausto de patolinos. Mick Jagger devorou o bicho nº 531.147; Ronaldo Fenômeno o 908.683; hoje o número supera a casa do 1 milhão de patos abatidos e encastoados em barrigas privilegiadas.


Como tudo o que é importado cheira bem aos olhos dos brasileiros (sim, porque cheiramos com os olhos e enxergamos com o tato, quando contamos dinheiro) quero trazer para cá a tradição parisiense. O sucesso seria imediato. Os primeiros da lista seriam os senadores e deputados. Escreverá assim a crônica do futuro: Senador Roubando de Tal, comeu o pato nº 171.151/2008, para comemorar o advento de uma emenda que permita os senadores liberarem obras para empreiteiras sem esse ferpo inútil e incômodo chamado licitação; deputado Furtando de Almeida; abençoaria, digo, comeria o pato nº 13.452/2007, para homenagear a lei criada por ele que lhe permitia aliviar os cofres públicos sem ser aborrecido pelo povo ou pela imprensa, essa espécie de maître intrometido.


Não tenho dúvidas do sucesso imediato deste empreendimento. Lá pelo pato seis milhões oitocentos e lá vai pedrada, a população de patos no hemisfério não seria atingida, uma vez que, se importamos a idéia, importaríamos também o insumo, e da Áustria viriam carregamentos de patos, devidamente superfaturados, para equilibrar a balança comercial que sofreria sérios abalos, vez quê, a gente engolindo tanto sapo, digo, pato, seria necessário exportar o extrato para um elixir milagroso que só nós produzimos aqui, o elixir voltaria para curar da fraqueza de ter de pagar em silêncio tanto pato para os políticos comerem e depois arrotar na nossa cara. Lá vai o pato patati patacolá/ lá vai o pato para ver o que é que há/ Quá quá.


PS: só a princesa dourada é que sabe a letra de cor.




Escrito por Alex Menezes às 17h36


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