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O Padre Argentino




Posso e aceito ser acusado das mais diversas malfeitorias, menos a de não ser observador atento do nosso tempo e dos fenômenos que ele produz. Uma moça, dessas tida pela grande imprensa como “celebridade” resolveu casar. Tudo bem; casa-se em toda parte. A sutileza do fato não está no vestido de tafetá, na grinalda, no buquê, ou em qualquer parte do paramento que reveste noivas no dia dos enlances. (não confudir enlace com forca).



“A estrela do casamento da apresentadora Ana Maria Braga com o empresário Marcelo Frisoni, no sábado, na cobertura tríplex dela, no Morumbi, foi o padre argentino Marcelo Goldstein. Depois de abençoar a união, ele distribuiu seu cartão para os 250 convidados. Nele, se lia: "Exorcista". – (Fonte: Folha de S. Paulo)



Viram? Romeu pediu apenas um altar a frei Lourenço; Julieta, mais audaciosa, pediu a felicidade eterna; os convidados desta nova era das festas nupciais não pediam nada (além do caviar Beluga) e ganharam de lambuja, em vez de bem-casados, a possibilidade dum exorcismo. Os tempos mudam, já diziam os romanos. E se um conviva tão audaz quanto a montechia Julieta dissesse que queria uma sessão? Ali mesmo, em plena festa?



"Percebo a negatividade nas pessoas tocando nelas e tiro o encosto só de soprar suas testas", diz o padre. "Deus criou o mundo com o sopro. Eu curo com o sopro, entende? O sopro simboliza o vento."- continuo o padre.



Viram novamente? Claro que os compatriotas mais impacientes vão se adiantar em dizer que o padre disse isso porque é argentino e argentino têm manias, digamos, megalômanas, como prova um amigo brasiliano em visita a Buenos Aires ao comentar com um local que “o dia estava lindo”. A resposta do argentino? “É, a gente faz o que pode”. Não pára por aí não: quer saber o nome completo da capital argentina? “Ciudad de la Santíssima Trinidad y Puerto de Nuestra Señora la Virgen Maria de los Buenos Aires”. Ave-Maria.



É necessário e até útil que se importe um padre (mas argentino!?) para celebrar uma união que congrega em si ingredientes próprios para um casamento longevo; esse povo célebre gosta um pouco dessa coisa “mega”; ouvi falar, por línguas não muito confiáveis, que a honra da benção seria dada ao papa, mas a incompatibilidade na agenda não permitiu ao pontifície a santa presença; Sua Santidade ofereceu em troca a Capela Sistina, mas os noivos recusaram por não querer chocar os convidados com aquelas imagens obscenas, anjos desnudos, o São Lourenço assando numa grelha, tais cenas afetam muito a visão de pessoas distintas, então toca a chamar um padre argentino que equivale não a um papa ou uma comitiva de papas, mas ao seu chefe (Jesus, em tese...) com a vantagem de que ele tem poderes mais sofisticados que os do filho de Deus pois este cuspia no barro e com a lama produzida curava cegos, já o padre das celebridades é mais asséptico que o Nazareno pois cura com um sopro divino. Pode-se dizer o que quiser, querer mal a iniciativa dos noivos e tudo, mas que o padre argentino é bicho limpinho, ah, isto é.




Escrito por Alex Menezes às 21h29


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