Fiquei profundamente pesaroso com a descoberta da gigantesca jazida de petróleo no litoral brasileiro, anunciada com estardalhaço pela Casa Civil (!). O pesar por mais contraproducente que possa parecer está embasado em dados tão sólidos quanto a superfície de uma anêmona.
O uso político-eleitoreiro da descoberta poderá nortear os rumos governamentais do país; sem contar os escândalos fora de quaisquer gibis que advirão quando a jazida passar a ser explorada. Mas o pior não são esses detalhes comezinhos. O defenestrável é que, enquanto o planeta luta pelo inexorável “Desenvolvimento Sustentável”, comemora-se o achado em grande escala de um elemento que é o maior vilão do aquecimento global. É do contraste do homem o regozijo pelo que se devia lamentar.
Em nome da Economia podem-se cometer os mais saudáveis desvarios; o Protocolo de Kyoto, o principal documento internacional que busca a diminuição da poluição no mundo sequer foi respeitado pelo maior produtor de poluição do mundo, os EUA. O senso comum diz que a China é o maior poluidor e não é, claro. Se os norte-americanos são os maiores consumidores de recursos naturais do planeta (a balança comercial deles nunca fecha positivamente, porque compram muito mais do que vendem). 25% de tudo o que se produz na Terra vai para os americanos do norte.
Uma música do Roberto Carlos de 1979, “O Ano Passado” faz uma previsão interessante em plenos anos em que nem se discutia meio-ambiente: “Diante da Economia/ Quem pensa em Ecologia?/ Se o dólar é verde é mais forte que o verde que havia”.
Hoje tudo passa pela Economia. Nada há de escrúpulos nas nações que precisam crescer, dar emprego, produzir como o Brasil esse ano, 2,6 milhões de automóveis sendo que as cidades projetadas (?) não comportam nem bicicletas, mas o que isso importa na face do onipresente PIB? Apinham-se de carros e concretos as ruas e as retinas, para o bel prazer de magnatas petrolíferos árabes como aquele que comprou o novíssimo avião da Air Bus, o ultra-gigante A380, com capacidade para 800 passageiros, para estacioná-lo no hangar de seu palácio. Custam 600 mil reais para encher o tanque do bicho, acabei de ouvir agora no jornal.
O sonho do governo brasileiro, sonho ufanista, é adentrar na OPEP, como aquele emergente que lambe os sapatos dos milionários para fazer parte do seu clubinho fechado. A OPEP é o cartel mais poderoso e nocivo que o capitalismo já criou, aumenta e diminui suas produções para controlar os preços do petróleo; em 1973 o barril custava 12 dólares. Hoje custam quase 100 e a terra que o produz não cobra um centavo, exceto aquele centavo da degradação, caro demais até para os sheiks daqui e alhures.
“Não adianta soprar a fumaça do ar
As chaminés do progresso não podem parar:
Quem sabe um museu no futuro
Vai guardar em lugar seguro
Um pouco de ar puro relíquia do ano passado...”
Escrito por Alex Menezes às 00h08
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