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O Novo Corola e a Cafetina da Crise

Uma insistente propaganda da montadora de carros Toyota diz que o mundo vai acordar diferente por conta do lançamento novo Corola. Eu pago para ver. Há quem, entre os dois sóis, prefira o poente ao nascente; eu prefiro a lua que além das notáveis inclinações românticas, não queima ninguém. Ah esse meu mundo. Bom mundo. A poderosa China teima em esmagar o monástico Tibete; mas o mundo acordará diferente após o lançamento do Toyota. Transformamos diariamente 84 milhões de barris de petróleo em poluição, conforto, desenvolvimento e guerra. Meu temor é que não se fabriquem Corolas suficientes. Vamos torcer.


Tambores do norte prenunciam uma crise econômica como nunca vista desde 1929; a diferença potencial e benéfica é que em 1929 muitos de nós não estavam vivos; se alguns estão merecem uma crise pelo atrevimento da longevidade. O fato é que a coisa promete enegrar. E muito. O que fazer? Esperar os Cavaleiros do Apocalipse econômico galgar por sobre nossa carcaça? Anseio pelo Toyota.


É muito possível que não aconteça nada pelo simples fato de que a ciência econômica é uma das mais indomáveis da série de ciências criadas pelo homem para se suportaram mutuamente; o herói financeiro de hoje poderá ser o vilão de amanhã; um gênio numérico como o ex-presidente do FED Allan Greespan se transformou num artista egocêntrico que previu a crise, mas nada fez para suplantá-la, talvez amedado pela impopularidade dos profetas; só posso depositar minha confiança no automóvel da Toyota.


Bom mundo. 5 anos de Guerra do Iraque, o barril a 110 dólares, e uma crise colossal descendo a ladeira; já que não posso fugir da eventual crise, nem ter uma solução para Bagdá, fujo de ambos temas. Decepcioná-lo em plena segunda-feira, dia muito apreciado por parcela ínfima da população, é um sacrilégio. O adequado seria apostar no improviso, numa anedota, na criação de um efeito verbal que o faria levitar enquanto lê isto aqui; mas como silenciar diante do caso bárbaro da menina que vivia acorrentada e torturada em Goiânia?


Não, não se vá; não farei nenhuma consideração acerca do caso cruelíssimo; ficarei mudo disto, tentando uma explicação não para esta covardia que apesar de absurda é humana; o que dizer da cafetina brasileira suposta responsável pela queda do governador de Nova Iorque; vocês a viram? Óculos muito escuros, colar longo, andar apressado e gestos impacientes: como uma estrela de cinema. A imprensa em peso a esperava no aeroporto, apresentadores de telejornais anunciavam de forma auspiciosa o desembarque da moça “e veja a seguir”, e eu a esperar, inquieto por uma palavra da cafetina catapultada à fama como num passe de mágica. A imprensa putrefata colabora para a decadência nossa de cada dia; a sorte (e aí lançarei mão do clichê cronista) é que o carro da Toyota vem aí; é assaz provável que eu não consiga possuí-lo, no máximo poderei vê-lo rodar pelas ruas inrrodáveis de São Paulo; o meio é tudo, o mundo parecerá melhor para o proprietário do novo produto da Toyota meio eficaz para a felicidade, ainda que fugaz. Definitivamente, o meio é tudo.





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