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O Monstro do Lago Seco

Quando a astúcia concorre com o egoísmo em proveito do cinismo tem-se um bicho que os zoólogos chamariam teratológico; eu chamo esse animal, puro efeito do cruzamento do homem com a carniça, de eflúvio. Explico. Não sei explicar. Nem quero tentar explicar: fica eflúvio e fim.


Você vai entender porquê.


O governante da emérita cidade de Breves, no Pará, usou os ingredientes listados acima para parir mais que um monstrengo; ele pariu um neo-mundo, uma substância nova, uma metamorfose invertida.


Aquele pedaço de Brasil, carente que é de tudo que há (!!), também o é de água. As pessoas lá vivem como não se vive cá; as águas que aqui jorram não jorram nos canos de lá... Canos de lá vírgula!


Há um cano que é abastecido com o precioso liquido; justamente o cano que se dirige à casa do prefeito. Não apenas isto. Ele escavacou as ruas do lugar para que a tubulação ligasse um reservatório de água ao seu domicílio. O trânsito ficou intransitável; as ruas emporcalhadas, as crateras públicas com causa privada. Mas a água jorrou na casa do prefeito. Os meios justificam os fins, apud a Maquiavel ou a alguém que ele copiou.


A diferença entre as matérias que transitam nos canos do alcaide e nos dos citadinos é simples questão de física, facilmente explicada por qualquer daqueles filósofos que precederam a Aristóteles. A diferença entre o gasoso e o líquido é praticamente uma questão de ponto de vista ou de reflexão, já que é para exigir do intelecto.


Até o momento em que escrevo este documento, meia noite e tanto, não há notícia de sublevação na cidade ou arredores, revoltosos incendiando a se(ê)de da prefeitura nem nada disto; se você conhece bem (ou mau) a história sabe que, por muito menos, imperadores perderam o império, reis os tronos, quando menos a cabeça, rainhas o ventre, papas o cetro. São fenômenos naturalmente ocorridos em terras estrangeiras, lugares hostis a governantes pacatos onde os habitantes não cultivam a virtude da paciência, qualidade tão apreciada pelos nossos compatriotas.


Mas história é sinônimo de mofo. Moderado, este prefeito só executou uma obra comedida, desviando para si a água que não pôde distribuir aos demais; quando uma centelha divina (sim milagres assim cogitam vir de algum céu) iluminar sua mente e ele entender que o desvio, de água e de conduta, está ao alcance da sua vontade, sem prejuízo à sua pele ou mandato, parirá (parirá é uma flexão monstruosa?) parirá uma criatura tão medonha, mas tão medonha que terá, igual a Robson Crusoé, de governar sozinho sua cidade, porque cidadão algum sobreviverá à fúria corrosiva de um monstro criado pela inércia de eleitores que fazem do voto em vez de uma arma contra abusos, uma ação viciosa que contribui para sua própria miséria. Cheirou contradição a paternidade do monstro? Um breve exame de DNA dirá se o pai é o político ou se é o povo; a pensão, independentemente do resultado, será paga pelo segundo.





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