Folha de São Paulo:
Mutação faz menina virar menino em família italiana
“Quatro irmãos da mesma família, portadores da troca de letras em seu DNA, são homens estéreis, mas com cromossomos femininos.”
Como você sugere que eu inicie o texto de hoje? Não faço a menor idéia de como começar. Pa, pa, pa, pa, pa, pa...hum. O que é hoje para você foi ontem para mim, então, não me poderá ajudar. Vou encarar sozinho o desafio de escrever sobre esta notícia.
Com os avanços da ciência, engenharia genética, células-tronco, transgênicos e que tais o jantar do futuro será assim:
- George, passe o milho.
E o milho, obediente, levantar-se-á do leito do prato para a boca da esposa do George. Sem tropeçar nos talheres. Sensores instalados no alto da espiga orientarão o milho por meio de uma solução batizada de R.A.V (radar-animal-vegetal). Essa maravilha tecnológica se dará com a combinação genética do milho e do morcego, dando origem à espécie morcilho. Ou milhorcêgo. Para não causar ciúmes, uma arenga anigetal. Na sociedade do futuro, bicho e vegetal também terão direito a um dos bens mais preciosos da humanidade: a vaidade.
Paul brigou com John porque as letras dos Beatles eram assinadas “Lennon/Mc Cartney” e não o contrário. Anseio pela sociedade do futuro.
Ao chegar à barriga da esposa do George, o ex-milho será triturado não pelo estômago, esse inútil trambolho da criação, mas por um eficiente sistema mecanizado (conectado à Internet via satélite) que informará, por meio de um chip disfarçado de grão, se o alimento foi comprado no Pão de Açúcar ou no Carrefour. Tudo pela eficiência.
Voltemos ao presente e à notícia: “Os pesquisadores que estudaram seus DNAs devem portanto ter tido bastante cuidado ao informá-los que, no fundo de seus genes, eles são mulheres”.
Eu ficaria feliz ao receber tal comunicado, digamos, de um cientista húngaro, com forte sotaque do sul da Hungria: “Escuta cá ó Sr. Alex, não te espantes nem te aborreças com o que vou te dizere, mas tu és uma mulhere. Se duvidares, olhes no microscópio. Ele aumenta 100 milhões de vezes, não tem erro, tu és uma mulhere.” Meu primeiro impulso seria perguntar se eu poderia continuar a jogar bola, ou se teria de pintar as unhas e o pior dos pesadelos: andar com um espelhinho na bolsa.
Fico compadecido com meus semelhantes italianos. Mais uma vez esses cientistas desocupados prestaram um desserviço ao povo, que não se importa com essas verdades tolas. Antes uma inverdade séria. Inverdade também é mentira, mas é mentira com luva de pelica. E nós, o povo, precisamos de pelicas. Estou farto das verdades dos cientistas, não os patrocinarei mais.
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