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O Drama da Manteiga Aviação





Um amigo viajado me contou que existe uma convenção internacional que padroniza o que é água com gás e água sem gás. Ele descobriu isso porque estava em apuros numa visita a um supermercado na ex-Iugoslávia, cujo atual nome ignoro absolutamente e estou preguiçoso para googlear; países que trocam de nome merecem o mesmo crédito que a Xuxa tem como educadora; não educadora sexual, ora bolas. Quando o rótulo da garrafa é vermelho a água é com gás; quando azul é sem gás.



Vou criar – se é que já não existe – igual método para as manteigas e afins. Comprei na padaria do seu Benjamin Abraão um pão lamego e já o havia devorado com os olhos tal era aquele oco na barriga; esmigalhei-o entre os dentes e o derrubei no estômago que há tempos não sabia o que era um bom ou mau prato; era o pão da ilusão. O pão era lamego, mas não estaria completo sem manteiga – Aviação, que é uma delícia, mesmo sem ser cremosa.



Disparei na direção duma venda qualquer para comprar a tal manteiga que alevantou vôo porque não a encontrava em lugar algum; parei defronte um mercado com uma fila mais inextrincável que o idioma iugoslavo, mas o desejo de gestante, aquela vontade tresloucada de querer lambuzar meu pão lamego com aquela manteiga superou o tédio, esse monstro quimérico que quando quer tomar forma física, vira fila. Enfrentei-a, com galhardia, era o Dom Quixote enfrentando o moinho de vento que só esses dias eu descobri que o tal moinho era REALMENTE um MOINHO e não apenas um vento em forma de moinho; tu entendeu aí? Sei lá, acho que endoidei que nem o George Bush.



Fila-moinho enfrentada comprei a manteiga e corri a casa às pressas, como se fosse o noveleiro sem trem no dia do fim da novela, cataplower, não posso imaginar aperto mais apertado que um noveleiro sem trem no dia que a novela das 8 prefere enfim acabar; espantei as baratas, colhi uma faca e saquei um prato, repousei o pãozinho no seu leito, abri o pote mas a manteiga era sal.



Simplesmente sem sal. O rótulo do produto repousa imenso na embalagem; a indicação de quem é sem sal é como a cláusula leonina e de péssima-fé dos contratos de plano de saúde; minúscula. Amarguei a insossa manteiga junto com o pão e, como a mãe do terrível Nero que pediu para o seu executor ferir-lhe o ventre como forma de penitência por trazer ao mundo semelhante monstro, assisti um programa da Xuxa, como a penitenciar o olho pela negligência e o mal feito ao paladar, essa espécie de filho que deve ser tratado com todo carinho. Ilari ilariê ô ô Ilari ilariê ô ô, é a turma da Xuxa que vem dando seu alô.




Escrito por Alex Menezes às 22h01


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