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O Dia Mundial Sem Carro




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Ah a ironia..., deusa dantesca que habita os esconderijos mais escondidos do mundo ou pelo menos do bairro, quando não, está lá, parada na esquina, à espera de um desleixo, a ironia é o sal da terra, ou o açúcar, porque o doce também salga quando aplicado em excesso.


Os seres humanos incansáveis e insaciáveis por criatividade criaram o Dia Mundial Sem Carro. Na cidade onde tento viver existem dois habitantes para cada carro, uma população motorizada crescente, financiada em sei lá, 700 parcelas de R$ 3,20. A cidade teria de espichar para os céus para abrigar tantos carros. Pois bem. No exato dia comemorativo em que campanhas publicitárias rogavam os motoristas a deixarem seus carros em casa e cuidar de seus afazeres a pé, de bicicleta, de patim, caso o andador fosse perneta, de chinelo ou que o diabo os carregasse, mas imploravam para que não tirasse seus carros da garagem, nesse exato dia um cidadão...


Um cidadão não atendeu ou entendeu os pedidos e, igual o meu descaso com os apelos das peças publicitárias de cerveja, saiu em desembesto com sua arma mortífera pelas ruas de São Paulo, mas precisamente no bairro da Zona Leste chamado Brás e, cataplawer, atropelou sete pedestres que não tinham nada de sair de casa naquele dia de ou sem carro; sábado, 10 horas da manhã não é hora de se estar na rua se você não é mendigo nem malabarista.


Sete pessoas esmagadas. O motorista foi logo acusado de estar embriagado. Embriagado às 10 horas da manhã de um sábado cheira a heresia e o bêbado se não for alcançado pela leniente justiça nacional, não escapará do tribunal dos bebuns no Congresso Anual deles que não tolera o fato de um membro estar, a esta hora e a este dia num estado tal; como ele iria suportar a noite daquele dia que é o dia universal de encher a cara e às vezes o pára-brisa do amigo carro?


Acho realmente muito engraçadas essas campanhas que ninguém adere; mas também a turma inventa de pedir cada coisa...; peça-se a mulher emprestada, a escova de dentes, peça-nos a filiação em massa da torcida do São Paulo ao PT; peça-se que as pessoas fiquem 2 horas sem acessar o e-mail, mas não peça para ninguém ficar sem carro, porque isso é uma coisa que ofende muito...



...eu mesmo precisei sair urgentemente para comprar uma caixa de palitos de dente na quitanda da esquina e fui correndo buscar meu carro que fica guardado a quatro quadras da minha casa; chego lá, o pneu cheio de vazio, pedi emprestado o carro do dono do estacionamento que ele surpreendentemente não negou, mas eu teria de pegá-lo na Barra Funda, bairro a 4 km de onde moro; chego lá encontro trancado o portão, o filho do dono do estacionamento diz que as chaves estão com a mãe, em Pirituba; pego um táxi, movido a gasolina, e chego no endereço; a mulher tinha acabado de ir ao estacionamento do marido, levar-lhe o almoço. Não xinguei. O prazer de andar de carro compensa tudo. Voltei para casa e minha mãe brigou comigo; esqueci de trazer-lhe os tais palitos, Gina, levava a onipresente imagem da Gina na mente, mas o pretexto era mesmo sair de casa – de carro.




Escrito por Alex Menezes às 22h20


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