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O Casamento do Papa




Têm escritores que sofrem com o que chamo e batizei de “Síndrome do Próximo Parágrafo”. É uma praga. Não a praga do segundo casamento, como disse esses dias Benedito Dezesseis, popularmente conhecido como papa. É um drama o próximo parágrafo. Eu, agora, vou enrolar o máximo neste porque não faço idéia do escrever no próximo.



Quando, no célebre Moby Dick, Hermann Melville inicia o livro com o simpático “Trate-me de Ismael” creio que ele nada sabia sobre o que escrever depois, ou se sabia, não sabia que sabia. São presunções. Tudo bem. Não consegui enganá-lo; no fundo você já captou que eu não quero escrever sobre a síndrome. Sou mau enrolador. Mas pode ser que seu faro esteja em pane. Que acha você? Será que eu realmente quero escrever sobre uma síndrome nova (porque velha) e inócua? Veremos...



Em ou sem tese, não sabemos nunca o que fazer no ponto seguinte. Nunca. O futuro inescapável, escapa das nossas possibilidades; escapou das do papa quando falou que o segundo casamento é uma praga. No “Planeta Papa”, as primeiras núpcias são sagradas e indissolúveis, mas no “Planeta Eu, Nós e Todo Mundo” tem de ser solúvel como o Toddy que despejo no meu leite pela manhã; comparação esdrúxula, observo, mas eficiente porque fática. Mais leite mais água, mas menos água no meu leite...



Com todo respeito que não devo ao papa mas que lhe dou por ato cristão, devo contrapô-lo com afeição. O papa nunca casou nem casará, segundo e seguindo a ortodoxia da Igreja. Também pudera. Os cerimoniais todos, a pujança do luxo externado, o paladar do poder nas entranhas dos cômodos papais, as obras dos Grandes Mestres da arte ao alcance dos olhos para contemplar, a Guarda Suíça com 30 mil séculos de tradição e todo o milenar aparelho eclesiástico que o torna uma espécie de humano que paira sobre o que é humano faz com que ele desnecessite deste instituto que anda mal das alianças; daí a opinar sobre ele com base, vá lá, nas Escrituras, a quem não quero contradizer. Escusado dizer que a folia perene da vida dos religiosos vaticanenses é incompatível com o genuíno ensinamento do Cristo.



Yeshuá, a quem o papa deveria adotar não apenas os ensinamentos mas principalmente o modus vivendi, certa vez disse dos fariseus ou dos líderes judaicos ou sei lá de quem, que eles “coavam o mosquito, mas engoliam um camelo”; (Mateus 23:23, eu acho) claríssima referência crítica aos sacerdotes que eram severos com as miudezas deixando passar coisas realmente importantes porque dalgum modo lhos interessava a violação de uma lei que ora pudesse causar opressão ou lhes privar de privilégios.



Não que o casamento seja um mosquito; mas quando ele zumbe demais na orelha do consorte, ferindo-o, tolhendo-o, sufocando, amordaçando, ou matando, é tempo de, antes que o último verbo desta série se consume, desfazer o contrato nupcial, antes que seja trocada a vida pela aparência de vida, o que é diametralmente oposto. Ficou bonito “diametralmente oposto” não?




Escrito por Alex Menezes às 23h10


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