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Não Veja, Príncipe




Hamlet é o bobo da corte dos burocratas. Todos o odeiam com aquele tipo de fé validada por carimbos. Se ninguém ainda disse, digo eu agora: o carimbo é a mais nociva invenção depois da pólvora. Comparam o príncipe dinamarquês com políticos idiotas. Dizem que ele “era um tolo dado a faniquitos”, “estabanado”. Perdoai, Senhor, eles não sabem o que dizem, mas eu também não sei, então segue aos céus numa só petição uma dupla solicitação de perdão.



Francisco Buarque tentou sintetizar o capitalismo numa linha: “O amor mal feito depressa/ fazer a barba e partir”. Vou tentar sintetizar a peça também: Hamlet que perde o pai, vê seu espectro, que quer vingança, que mata o tio (o regicida), que matou seu pai, que ama Ofélia que a abandona, que fica doida, que se suicida, que mata Polônio, que morre a mãe, envenenada, que por fim morre, envenenado, pela espada do seu rival. Pronto, ficou uma síntese meia-boca; todas as bocas são meias perto da bocarra de Shakespeare.



Hamlet é o herói mais humano já criado. É um modelo de herói raro, porque renuncia à glória. Ele nunca vacila: “O que lê meu príncipe?”, pergunta o arguto Polônio, a resposta?: “Palavras, palavras, palavras...”. Inesquecível. Em recente artigo na Veja o articulador Reinaldo Azevedo faz miséria do príncipe chegando ao requinte de chamá-lo de “cretino” porque era de sentir demais e pensar de menos.



Governantes que “sentem” não são bons, sustenta ele. A revista e alguns dos seus colaboradores são como porta-vozes da elite econômica do país. Em 2006, no auge da polêmica do abuso que a Telefônica ia cometer aumentando escandalosamente a tarifa, a revista defendeu a empresa (que anuncia na Veja) argumentando que “era necessário cumprir o contrato” independente dos interesses do povo. Noutra feita, quase “obrigou” seus leitores a apoiarem no Referendo o “direito de se ter arma de fogo”, campanha de sucesso.



Azevedo também atacou Norberto Bobbio, um dos mais notáveis pensadores da segunda metade do século XX e conspícuo jurista. Reproduzo o que ele escreveu: “Bobbio escreveu uma bobagem antes de morrer, disse que a esquerda se ocupa da justiça social e que a direita defende o status quo. Tolice”. É uma tolice mesmo, ainda mais para um sujeito como ele que conhece as mazelas do país de oitiva e das páginas dos jornais, sentando num gabinete e possivelmente pagando um salário-mínimo para a empregada que lhe serve café. Este é o legado que homens “de direita” como ele outorgam à humanidade.




Escrito por Alex Menezes às 22h48


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