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Natascha Kampusch e o Lobo Bom

Quem não esteve a passear por outras galáxias por esses tempos decerto ouviu falar da menina que ficou 8 anos raptada na Áustria, a terra que produziu Mozart, mas também Hitler: o mesmo chão faz nascer flor e espinho.



Pois bem. 985 milhões de opiniões foram tecidas acerca desse caso pelo simples fato de que dar opinião é a segunda coisa mais fácil a se fazer na vida, só perdendo para o ato de respirar; e a mais saborosa das opiniões é aquela dada sobre aquilo que não entendemos. Tiro por mim.



Li cartas de leitores de jornais; uma moça, em nervos, escreveu: “Ela quis ficar presa. Se fosse eu, teria fugido em uma semana!”. Será que ela tem essa mesma bravura para se livrar do trabalho maçante? De um chefe sem escrúpulos? De uma rotina extenuante? Dar opinião é tão fácil quanto agüentar a cólica do próximo.



Manes era um escravo que servia Diógenes, o célebre e despojado filósofo ateniense. Quando Manes fugiu e Diógenes descobriu seu paradeiro julgou que não valeria a pena reconduzi-lo e exclamou: “Vergonhoso seria se Manes não pudesse viver sem Diógenes ou Diógenes sem Manes!”. Sobre este episódio Sêneca completou: “Meu escravo escapou? Quem está livre sou eu!”.



Se Natascha julgava-se presa quando estava solta e presa sentiu-se livre é porque achou alguma razão positiva para si. Para o bem e para o mal, todos têm as suas próprias razões.



"Ele era parte da minha vida. É por isso que eu lamento por ele de certa forma."



Foi isso que disse Natasha, após a morte do seu seqüestrador.



Claro: analistas se apressaram em dizer que é efeito da tal síndrome de Estocolomo. Circula por aí que a causa da provável vitória do atual presidente é a “Síndrome de Garanhuns”.



Para azeitar essa salada de presidente, seqüestros, filósofos, síndromes e tudo o mais, vai uma pequena fábula de Fedro, o culto escravo do Imperador César Augusto, que aproveitava os intervalos das chicotadas para, em vez de chorar, traduzir as fábulas de Esopo do:



Forçada pela fome, uma raposa tentava

apanhar um cacho de uva numa alta videira,

saltando com todas as forças;

Como não conseguisse alcançá-lo, disse, afastando-se:

"Ainda não estão maduras; não quero apanhá-las verdes".


E foi embora.



Moral da história: se o escravo de Diógenes fosse Fedro, não o teria deixado ir embora e se o seqüestrador fosse mau feito o lobo, Natascha não teria esperado 8 anos para dar o fora.






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