- Happy Xmas Yoko. – (Feliz natal Yoko)
- Happy Xmas John (Feliz natal John)
É assim que John Lennon inicia uma das suas mais célebres canções desejando feliz natal ao rico e ao pobre, ao fraco e ao forte, ao branco e ao negro. É uma bela e utópica mensagem, dessas que tem por fim alcançar o vento. Vento sim: no dia 25/12, 900 milhões não terão o que comer; 1 criança morrerá por minuto por inanição na África e as etcs ladaínicas (ver ladainha) que vocês estão cabeludos de saber, pois os carecas não querem mais nada saber.
Fora o contexto marcadamente religioso da data, não dá para levar a sério uma data artificial como esta. Jesus sequer nasceu em dezembro. Pastores pastoreavam as ovelhas no campo quando do seu nascimento; em dezembro cai neve em Israel (antes neve que mísseis) Eruditos concordam que ele deve ter nascido lá por outubro. A igreja católica aproveitou eventos festivos pagãos como o 1º de Janeiro, deus sol, para comemorar o “nascimento” do Cristo.
Cumpre dizer que Jesus nunca jamais comemorou nenhum aniversário natalício. Não era costume entre os primitivos cristãos tal comemoração. Para ele o que importava e era simbólico era sua morte que a todos redime, não o seu nascimento: “Persisti em fazer isso (lembrar sua morte) em memória de mim” (Lucas 22:19)
Papai Noel. A lenda surgiu com Nicolau Taumaturgo, no século 4º d.C. Poucos sabem que o bom velhinho tem a cor vermelha e branca por causa da senhora Coke; Coca-Cola para os íntimos. Em 1930 surgiu a primeira grande campanha publicitária entre a fabricante daquele líquido empretecido e a Santa Claus, seu nome saxão, aliás nome é o que não falta a ele; é Pai Natal em Portugal, Baboo Natale na Itália, Niño Jesus em México.
Claro que é difícil não se deixar emocionar pelo que se convencionou chamar de “espírito natalino”, tal é a violência midiática em torno da data, as ruas enfeitadas, pinheiros iluminados, a neve; um costume europeu enfiado na goela tropical que a tudo digere, sobretudo se a iguaria vier da linha de cima do equador.
Vejo a atriz Silvia Pfeifer, seu sobrenome importado, anunciar num reclame televisivo para que todos façam suas compras no Shopping Tatuapé, um lugar onde ela jamais deve ter colocado os pés, dizer que é uma data blá blá blá, mas que todos comprem no tal lugar. “A que usos ínfimos temos de nos prestar, Horácio!” deve ter dito ela após a gravação, se é que ela já ouviu falar em Hamlet; em natal e dinheiro, é certo que sim.
Por sinceridade, se toda a energia despendida em torno das festividades natalinas, a balbúrdia das compras, as comilanças todas, fossem dirigidas com o fim de tornar a vida coletiva menos pérfida do que é, me vestiria de Papai Noel.
Fico triste com ver tudo isso se repetir todo ano, as mesmas matérias jornalísticas, o mais do mesmo, um deja vu irritante, as lojas lotadas, congestionamentos nas ruas, dia desses no Jornal Nacional, uma família entrevistada no ato sacrossanto das compras de natal, teve a filhinha, microfone a postos, dizer: “Presente!Presente! Presente!” – só que o senhor Bonner, editor-chefe do programa que ele mesmo disse outro dia que “era feito para os Homers Simpsons brasileiros” (idiotas, enfim) pode dar presente presente presente para seus filhos, e como bem apontou o grande Darcy Ribeiro, nossa mídia irresponsável não sabe medir seus efeitos nocivos a uma sociedade carente como a nossa.
Presente presente presente! Se até agora ecoa em mim o que disse a inocente menininha, que dirá noutros inocentes e não-inocentes ouvidos. Presente presente presente!! Papai quero presente!!!!!! – E Deus viu que isso era bom, como se diz nas Escrituras.
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