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Hamleto




“... Ser ou não ser..., eis a questão. Que é nobre para a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras (...) morrer, dormir, dormir, talvez sonhar...é aí que bate o ponto. O não sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte (....) pois quem suportaria o escárnio e os golpes do mundo, as injustiças dos mais fortes, os maus tratos dos tolos, a agonia do amor não retribuído, as leis morosas, a implicância dos chefes...”



O escritor é o maior embusteiro entre todos os embusteiros criados pelo homem. Relendo pela undécima vez o Hamleto de Shakespeare, encontrei o embuste, pespegado neste solilóquio que é o mais famoso de toda dramaturgia mundial. Quem nunca se viu a dizer “ser ou não ser, eis a questão” sem fazer a mais vaga idéia do que era esse “ser” e ou outro “ser”. Eu por exemplo não vago.



O escritor nos engana ao botar na boca do príncipe dinamarquês tais pensamentos, tais injúrias contra a tempestiva organização de coisas a que chamamos civilização. Simples. Hamleto era herdeiro de um grande reino. Injustiças, maus tratos dos tolos, amor negado, leis morosas, chefes autoritários, toda essa gama de coisas são característicos de nossas vidas de misérias, não podendo jamais alcançar um príncipe – tanto menos numa época em que reis estavam acima da lei, do bem e do mal, valendo-se do seu “direito divino” de governar.



Quem fala ali é o próprio Shakespeare, ele mesmo vitimado por uma vida de flagelos e maus tratos de tolos de toda espécie. É o gênio dele se expressando na voz de uma das mais extraordinárias criações ficcionais de que se tem notícia. Hamleto é tão complexo na sua loucura, tão simples nos seus desejos, que penso que só podíamos encontrar pessoas de carne e osso assim nos consultórios de cirurgia plástica.



A dúvida do príncipe em por que aqueles que sofrem esses inconvenientes da vida simplesmente não dão cabo dela por “não saber quais sonhos trarão o sono da morte” adverte-nos da preocupação do bardo com o além-túmulo; seria melhor o sofrimento já sabido nesta dura vida do que a incógnita da morte “país desconhecido de cujo âmbito ninguém jamais voltou?”.



Senhor Shakespeare, ainda degustada com dores de parto, viver vale mais, muito mais do que morrer.




Escrito por Alex Menezes às 00h43


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