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Fogo no Brasil




Não sei se há muito o que dizer sobre a absolvição do senador Renan Calheiros pela Alta Câmara Nacional. Se eu fosse um homem cauteloso, seguiria a sétima proposição de Wittgeinstein: aquilo que não se pode falar, deve-se calar. Não vejo desalento, surpresa, indignação, covardia dos seus pares, raiva, impotência, fim da utopia, falta de apetite, enfim, não vejo nem sinto nada. Renan é culpa nossa, é nosso filho, nosso subproduto, temos de tolerá-lo, engoli-lo.



A política é uma coisa nojenta, feita por homens execráveis e a sociedade que os sustenta são como gusanos que se alimentam dessa carniça continental chamada Brasil, um país de tigela nenhuma, miserável, sem grandeza moral, despótico, sem ideologia, asqueroso mesmo, camuflados na pele de “povo alegre” que se embebe e se identifica no carnaval; onde vemos crianças na rua, desabrigadas e achamos “normal”; desviamos de mendigos nas calçadas e achamos “normal”, pagamos propina a guardas rodoviários e achamos “normal”, falsificamos carteirinha de estudante para pagar meia-entrada e achamos “normal”, fraudamos atestados médicos e achamos “normal”; porque diabos eu vou achar anormal absolver um sacripanta, covarde, putrefato vivo, dejeto humano, chamado Renan Calheiros e seus comparsas liderados pelo presidente Lula?



Queime-se minha língua e pior, meus dedos, se a CPMF, motivo oculto da absolvição, e seus 40 bilhões de reais forem de fato aplicados em investimentos sociais. Renan pensa que está acima da lei – e está, caso contrário não teria sido absolvido não obstante a avalanche de acusações que pesam sobre seu lombo largo, quente e protegido pelos seus capangas. Terceiro homem na linha de sucessão da República, esse homem sub-letrado, inculto, tosco no trato com a ética, saqueador da ilusão dos míseros alagoanos alguns tão selvagens quanto o próprio senador: comemoram a absolvição do líder da torpeza nacional como se fora uma conquista da Copa do Mundo.



Não vi nenhuma reação efetiva por parte dos brasileiros, a não ser as opiniões dos “formadores de opinião” destacados pela Folha, Estadão, Veja, Época, Istoé, gente do calibre de Grazi Massafera, ou Gugu Liberato, indignados, furiosos com o resultado do certame julgatório do Senado.



Deixem para lá. Não se aborreçam com as falcatruas da Alta Câmara e seus membros – pelo menos 46 deles – 40 que votaram a favor de Renan e 6 que se abstiveram – eles fazem sua parte e nós a fazemos a nossa; mutilam a lei e a ética e nós aplaudimos, quando muito rosnamos uma ou outra diatribe, mas só naquele momento crítico em que um microfone, esse moderno falo eternamente ereto, é enfiado na boca dalguma celebridade que logo após vai mendigar alguma subvenção dos calhordas que habitam Brasília. Para o Brasil, dado o desfecho do caso Renan, só há uma solução tão primitiva quando o povo que o habita: fogo, muito fogo.




Escrito por Alex Menezes às 15h32


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