top of page
  • Foto do escritorABM

Faroeste de Lavrador



Francamente, uma das coisas que eu mais admiro nas pessoas é a sinceridade de sentir o que sente e, após isto, distribuir seus gestos de sentimentos, bons ou maus às platéias sempre à espera dum vulto qualquer, dum flagrante de necessidade, ou não é verdade que numa corrida de carros as melhores reprises são das batidas, quando ocorrem?

O cidadão, como era o nome dele mesmo, aquele que invadiu o Palácio do Planalto pedindo ajuda ao nosso/seu presidente? Segura aí que vou achar no Google. Achei. O nome do sujeito é Ângelo de Jesus, nome que evoca duplamente o divino, mas parece que ele está mais para o inferno do que para o céu. Quem tem o mau hábito, entre aspas, de ler ou assistir jornal, deve ter sabido que um homem invadiu o Planalto berrando, a sintaxe meio manca, “Presidente, salva eu! Salva eu presidente!”. É lavrador e baiano como o Rui Barbosa o bom homem. O Rui lavrava Letras em vez de grãos; Letras não matam a fome, mas alimentam. Sofre de hanseníase. Hanseníase. Se o nome, que é até simpático, parecesse com a doença ela seria uma mera gripe, que se conserta com um chá ou um acalanto, mas é horrorosa, porque é lepra.

A história dele parece o roteiro da música-protesto-odisséia do meu amigo Manfredini Jr., a Faroeste Cabloco. Ele queria falar com o presidente para a ajudar a toda a gente. Levou muita reclamação de desvio de verbas para a sua amada Bahia, como se o presidente não soubesse dessa excrescência, digo, saliência, (é que “excrescência” lembra “excremento” e aí fica tudo a ver...) na administração pública e neste exato momento o Sr. Ângelo perde minha a profunda admiração pelo excesso de ingenuidade que não suporto e não tolero nem em advogados nem em tiranos, que dirá num lavrador, que sofre mais que os primeiros.

Este presidente que, pelo menos deste evento ficou sabendo, tomou medidas rápidas, mandando internar o manifestante num hospital militar de Brasília. Não foi recebido pelo presidente, mas pelo seu Cerimonial, na pessoa do Chefe de Gabinete. Recebeu R$ 200,00 para voltar à sua terra. Carregava consigo, veja essa, uma imagem de são Lázaro. São Lázaro, acumula além do dificílimo cargo de santo, ainda mais dificultoso nesse lado do equador, o de patrono dos enfermos. Podia levar consigo e entregar ao presidente uma imagem de são Brás. Por óbvio, você vai querer saber porquê. Eis aí, homens sedentos de explicações.

“Onde quer que esteja

Meu caro Barão

São Brás o proteja

O santo dos ladrão”

Meu Caro Barão

Enriquez/Bardoti/Chico



Escrito por Alex Menezes às 00h10


Posts recentes

Ver tudo
bottom of page