Fui acompanhar o processo de seleção de funcionários da empresa em que trabalho – ou sociedade empresária, como quer meu professor taciturno.
Quis crer que o postulante ao cargo não carecia de grandes qualificações; são porteiros, ajudantes de limpeza, zeladores. Entrei na sala, surrupiei-lhe os semblantes tristes e diagnostiquei a esperança escondida entre os vincos e as rugas das suas faces desconfiadas. A gerente de recursos humanos os analisou, prospectou, e não os aceitou. Não tinham a devida qualificação. Eu que pensei que a principal qualificação para se desempenhar o serviço de porteiro fosse estar vivo.
Crueldade do mundo. Às vezes, para ocupar um cargo importante, não se precisa de qualificação alguma: apenas votos ou uma indicação.
São pessoas em que suas biografias são reveladas em pormenores pelo mapa do rosto não raro sôfregos, tingidos de muita labuta e nenhum estudo. Homens de 30, 40, 50 anos. Vítimas de uma origem humilde fadados à miséria ou seres acomodados que não gostam de se esforçarem para melhorar de vida? Depende.
Pode-se nascer em berço ornado de ouro como Arrideu, o meio-irmão de Alexandre, o Grande, e ser-se um alguém obscuro. Ou nascer num paupérrimo vilarejo (Vinci), ser filho de pais analfabetos, e tornar-se um divisor de águas da humanidade, como Leonardo. Por intervenção divina faz-se necessário que o equilíbrio entre gênios e a gente comum seja nessa proporção escassa. O mundo não se sustentaria com 6 bilhões de Alberts Einsteins.
A maioria dos candidatos tinha algo em comum: a origem. Cidades do interior da Bahia, Pernambuco e Ceará se destacavam nos Rgs. O norte e o nordeste do país, um dos lugares como maior potencial turístico do mundo, exporta trabalhadores.
Nada obstante, creio sempre na força individual para vencer obstáculos, independente da origem. Todavia, aqueles que não são dotados de um mínimo de discernimento e são vitimados por políticas públicas ineficientes, sofrem mais. Só em São Paulo, desembarcam por dia 7.500 imigrantes vindos do norte/nordeste com o sonho de conseguir melhorar de vida; esperança logo diluída pela bruteza da cidade e suas esquinas. Luis Gonzaga, o grande Gonzagão, diz melhor do que eu:
Faz pena o nortista/Tão forte e tão bravo/Viver como escravo/No Norte e no Sul...
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