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Doces Prazeres

Eu não sei qual é a sensação de um primeiro qualquer coisa na nossa vida que, é força dizer, às vezes não é tão nossa e sim dos humores dos bandidos e das balas perdidas, seus filhotes metálicos. Quem lembra da Patrícia Luchese (era assim mesmo o nome?) com o iconográfico “o primeiro sutiã a gente nunca esquece”? Até eu que uso peito, mas não o sutiã, lembro. Imagine o homem primievo ao enfiar, deliciado e talvez por acaso, o dedo (da mão) numa colméia; o parêntese é necessário porque é descartada a possibilidade de ser com o dedo do pé, que ele decerto usou para partir em fuga das abelhas. Concluo, sem entanto, que a variedade dos prazeres humanos é tão vasta que há aqueles que sentem prazer em, sei lá, ler livros, coisa mais exótica. Meu primeiro grande prazer, contrariando os preceitos psicanalíticos (e escatológicos) de Freud, não foi o controle sobre as funções renais do corpo, tão menos o desejo de aniquilar o papai para paquerar mamãe, eu nem tinha grana para um cinema!, voltando, meu prazer supremo foi o primeiro beijo, dado num repente; entre eu e ela, um muro – foi um desastre. Antes meu desejo fosse um gibi, antes provar um pedaço de sapoti, antes um gomo de jaca que a abelha não gosta. Um amigo mais antigo do que eu uns 3 anos já havia me alertado e excitado das delícias do beijo, falava com propriedade, era loquaz para convencer; eram chocolates os sabores dos beijos, eram abacaxi, groselha, morangos, era um buquê misto dos mais seletos sabores; o que ele me ocultou foi que o verdadeiro sabor era de saliva, saliva crua, sem sal, despida mesmo de um gosto apetecível, um tutti-frutti de papel, nada diferente dos ensaios que eu fazia a sós, beijando o antebraço. Tempos depois entendi que o verdadeiro sabor dessa maravilhosa invenção oscular advinha das sensações extra-sensoriais formuladas pelo cérebro, fato explicado pelo fato de que eu, à tenra idade de 9 anos (ou 11?), não sabia direito, nem esquerdo, o que era cérebro, e menos ainda suas funções, que vai de dar paladar a uma carícia ao fabrico de uma bomba de hidrogênio, que destrói todos os beijos do futuro e do passado. ********************* A Cia Sul América Seguros editou o comercial do lançamento de sua rádio com notícias sobre o trânsito em que uma entrevistada lamentava que a sua cadela “Melissa” perdera, por causa do engarrafamento, sua visita ao pet shop; pergunta que não quer calar teria sido a pedido da fofíssima Melissa? Escrito por Alex Menezes às 23h50

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