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Desatino Macedônio

Busto original de Alexandre, Museu Britânico “Aqui jaz o insensato rebento de Felipe de Pella, o salteador feliz que o destino vingador do mundo levou embora consigo” O poeta latino Lucano escreveu o desabafo acima quando da visita de Júlio César ao mausoléu de Alexandre quando esteve no Egito, levado para ali por Cleópatra que 300 anos após a morte do líder, era a guardiã do seu corpo sacralizado pelo mito. Ele era odiado com a mesma intensidade com que era amado. Poetas e escravos, cozinheiros e arquitetos, todos tinham um juízo a fazer sobre o macedônio e é difícil a conta fechar para o amor e para o ódio. Ele cometeu vários desatinos. Assassinou parentes que podiam reclamar o trono após a morte de seu pai; aniquilou a cidade de Tebas (6 mil pessoas); talvez embriagado, deixou que o esplêndido palácio de Persepolis fosse queimado; chacinou os habitantes da ilha de Tiro (8 mil pessoas) que após 8 meses de cerco não se rendeu à sua cobiça; matou um dos generais (Clito, o Negro) que salvara sua vida na batalha de Arbela; ficou 12 anos sem rever a mãe quando partiu com apenas 20 da Macedônia para conquistar a mais suprema glória que talvez nem mesmo personagens de ficção ousariam sequer sonhar. Todos os heróis gregos retornaram à Grécia após seus périplos pelo Oriente; Dionísio, Hércules, Aquiles; apenas Alexandre não o fez. Se tivesse retornado após os inacreditáveis feitos que realizou, seria ungido com tal pompa que, presumo, os deuses, por inveja antecipada, abortaram o prodígio providenciando-lhe uma morte precoce, como se apagassem no presente, as pistas que ele inexoravelmente deixaria no futuro. Mas afinal, era mau o macedônio? Não era. Por mais incômoda que possa parecer uma peça de defesa a seu favor, ela é correta, pura e necessária. Diferente de Hércules que executou seus trabalhos acompanhado da solidão, o herói de um olho cinza tinha de controlar a inveja, a cobiça, a ira, o orgulho, a tirania, a insensatez e até mesmo a burrice alheia; e ele o fez com excelência e habilidade sobre-humana. Cada ato “vil” que ele cometia o afligia profundamente; mas eram atos necessários por mais doloridos que fossem. A missão de Alexandre (que creio divina) era destruir o opressivo Império Persa da dinastia Aquemênida que já governava por 2700 anos. Destruído o império, o caminho estaria aberto para o florescimento do Cristianismo impossível de ser praticado sob a ditadura persa que sufocava toda e qualquer manifestação cultural e religiosa em suas satrapias (províncias). Nenhum homem está acima da lei e do direito natural. Alguns homens, todavia, precisam duma prerrogativa especial para redesenhar os rumos da História; se para fazê-la melhor não se sabe, se para mudá-la isso é certo e Alexandre foi um desses homens, talhado para dar a guinada necessária ao curso do mundo àquele tempo e que decerto reflete e ecoa no nosso. Escrito por Alex Menezes às 00h14

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