Se você que aí está me disser que existe algo mais aborrecível do que a velhice, tomo-lhe por um grande mentiroso. Mais: perderá minha confiança, meu respeito e a minha estima. Poetas, cantores, artistas, e outros modelos de marqueteiros tentam nos vender a idéia de que “a velhice é boa”. Para mim não é; é péssima, chatíssima, dispensável. Tenho horror à velhice.
A decrepitude que a velhice encarna na figura humana só não é pior que a morte; com ressalvas. A morte tem a vantagem de reabilitar um organismo doente, quando o livra duma dor terminal. Já a velhice o que faz? Limita, entristece, proíbe em suma, cria uma franquia infindável de “não podes”.
“É tão bonitinho um casal de velhinhos!”; eu acho horroroso. Os preferia ver jovens, cada um dono de seus 30 anos; garanto: iriam se divertir muito mais. A defesa de que a idade traz sabedoria é retórica de perdedores. Quem vence num confronto entre a juventude e a sabedoria? Prefiro ignorar equações e a física e ter 20 anos a dominar todo o saber e não poder correr atrás de uma bola, subir num pé de manga, pular o muro do vizinho à caça da vizinha ou de ser caçado por conta dela.
O implacável tempo nos obriga a se acostumar com a decadência e fazer até alguma poesia, uma condescendência com o definhamento inexorável do corpo; mas eu não!, sou intransigente com a velhice, a ponto da rabugice, e logo detecto em mim uma velhice precoce, se verdadeira for a ciência popular que diz que a rabugem é mal que acomete somente velhos.
Consolos e elixires têm por aí aos montes, mas sempre paliativos ou improváveis. Tem a Hebe (não aquela, por favor!) grega que foi agraciada por Zeus e Hera com a graça da juventude eterna; mas na literatura e no cinema todos são jovens!; veja o caso do James Dean... Mas eu, não sendo grego nem ator, não vejo outro modo de me rebelar em desfavor da velhice; só se eu morrer, o que por ora descarto porque não me apetece muito nem seduz, pela questão simples de incompatibilidade de interesses. Só morro quando for obrigado, ainda que velho, esse modo duplex de morrer.
Em algum lugar da Bíblia, Isaias quiçá, é prometida a restituição da juventude para todos os felizardos que superarem ilesos o Armagedom, essa guerra titânica prometida pelo Titã-mor chamado Jeová, Iaveh, Javé, YHWH, ou como queiram os gramáticos. Lá, o profeta judeu informa até para árabes e gentios que Deus fará novas todas as coisas, quem viver, viverá. – jovem. Vejamos...
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