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Dama com Arminho





Leonardo da Vinci (1452-1519), o homem mais celebrado da Renascença, multifacetado, plural de mente e espírito, talvez tenha sido o primeiro homem moderno, sendo, todavia, cria do proto-conhecimento de seu ancestral e mentor Aristóteles, este o mais sensível homem de saberes já vivido, o gênio por excelência.



A tela "Dama com Arminho" de 1485 está hoje na Cracóvia, na Polônia, no museu Czartoryski. Cecilia Gallerani, amante de Ludovico Sforça, é a esguia modelo. É antes de tudo uma obra que tem o poder de inquietar antes mesmo de se apreciar - ou a odiar. O fundo chapado sugere um destaque efusivo aos modelos, lance raro nas pinturas de Leonardo e de toda Renascença, cujo fundo sempre projeta paisagens difusas ou místicas, como "A Anunciação", "A Virgem dos Rochedos" e "A Monalisa", não se comunicando com o relato do primeiro plano.


Não sendo jamais um artista convencional, ele experimenta a perspectiva, faz digressão e desafia o espectador ao não colocar - como é usual num retrato - a modelo fitando quem a olha, preferindo um sugestivo e profundo olhar oblíquo, como a pedir tridimensionalidade à figura; o olhar transcende a tela, quer devassar o horizonte. É um monumental artifício que prova a exímia habilidade do artista em não apenas mostrar, mas esconder o que anseia a personagem.


Apesar de ainda seguir a tradição triangular da figura, ele inova ao mostrar o colo quase desnudo de um (quase) membro da realeza. A serenidade e candura da modelo dialoga contrariamente com a ferocidade do animal, que como na escultura de Michelangelo "O Despertar do Escravo", (peça inacabada em que o escravo parece querer se libertar da pedra que o aprisiona), o arminho parece querer fugir do colo da dama, onde está docemente aconchegado.


Leonardo, cuja lenda ultrapassa sonoramente a sapiência, faz dessa tela uma viagem à volta do círculo que ele mesmo enfia personagens e espectador; há uma comunhão nesse jogo de olhar-não-olhar, da fuga iminente do arminho (que parece observar uma presa) ao aspecto nobiliárquico da donzela que não quer escapar para nenhum lugar, apenas intenta fazer a visão esvair-se do quadro, um modo mágico de estar sem querer estar.




Escrito por alex bezerra de menezes às 22h56


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