A Igreja Universal é um fenômeno. Escapa de todo o conhecimento saber qual foi a alma resplandecente que criou a religião, possivelmente a instituição mais abstrata da sociedade. Queria responsabilizar Santo Agostinho, Maomé, Moisés, o imperador Constantino que malandramente oficializou o Cristianismo, ou sei lá, minha querida vovó a quem coube a tarefa não só de me criar, mas também a de incutir as primeiras noções da eucaristia a serventia do terço e demais formulações necessárias à prática católica.
Os homens não contentes com as já infindas denominações religiosas existentes usam do prodígio e do senso de necessidade comum a todo ser nascido sob o signo da bem-aventurança espiritual-material para criar mais algumas, para azeitar a máquina de fazer devotos e dinheiro, a famosa Deus S/A. Os homens de gênio criaram a IURDI.
Um vendaval de processos impetrados por fiéis e “bispos” desta organização ameaça destelhar a cúpula dos magistrados. Tudo porque uns jornais (Folha de São Paulo e Extra) e uma jornalista, Elvira Lobato, resolveram fazer um dossiê em forma de livro e vasta reportagem sobre o império colossal da igreja do Sr. Edir Macedo que ora, ela igreja, completa 30 anos de sucesso. Eu realmente não descubro os motivos para o ódio contra a igreja e seu líder; se os devotos, semelhante aos pagadores de impostos, vão lá pessoalmente, sem advento de arma de fogo, nem símile, doar seus dízimos, poupanças, propriedades, cérebros e até rins, porque da grita? É injusto e até muito injusto; se há denúncias de evasão de divisas, crimes financeiros, maracutaias nas sociedades empresárias da igreja ou até alto fausto e vida nababesca de alguns plumados homens que a dirige que tenho eu a ver com isto? Eu não sou a justiça; se ela que é ela não se aborrece, porque o irei fazer eu?
Reclamo, todavia, uma contrapartida da igreja; se a deixamos em paz para prosseguir nas suas atividades nebulosas (no âmbito comercial, as espirituais carecem de muito álcool e exegese) ela também tem de colaborar, não cerceando o direito supremo à liberdade de expressão dos veículos jornalísticos do país. Fico tão aborrecido em ter de escrever sobre essas coisas que dá vontade de largar o texto aqui; invocar alguma entidade espiritual e deixá-la terminar essa lamúria.
Mas tenho um miserável senso de responsabilidade com o leitor que me obriga a ser educado e não um grosseirão sem distinção. Se eu fosse covarde, culparia Deus por deixar existir Edires Macedos às pencas; mas não sou ingrato: gente como Macedo serve como justificativa para a manutenção, que receio cara, de lugares inóspitos como o inferno, que carece de população para justificar seu orçamento, que é, repito, alto.
Advogado de acusação, juiz e promotor concentrados todos em mim, rasgo a peça jurídica por entendê-la inócua; doadores da igreja, seus vorazes líderes e até eu (veja o que são as injustiças!), não tardarão e estarão devidamente mortos e enterrados, porque a sepultura é o relógio mais pontual que existe e ainda que não fraudemos uma lei terrena ou violemos alguma outra do céu, em regra menos severa que as daqui; para quê arruaças e tantos processos se o fim é o mesmo? Não é desencanto, pessimismo, a renúncia do Fidel Castro; neste quesito fico com a filosofia daquele náufrago que teve um insight em meio ao alvoroço comum quando se está com a morte às portas:
- Senhores, calma! Não se afobem! Morreremos todos...
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