
Este absurdo aqui é Cimabue (1240-1302). Quando estive na Galleria degli Uffizi, (onde estão, vejam bem, A VÊNUS DE MILO, de Botticelli, e ANUNCIAÇÃO de Da Vinci) estranhamente me detive nesta peça algo sombria em que um Jesus meio assustadiço está no colo de uma Maria com traços nada celestiais - diferente das puríssimas e vestais madonas da Alta Renascença, quando por exemplo na Pietá, Michelangelo nos dá uma Virgem mais jovem do que o Jesus - a explicação para isso é que "a aproximação com o divino afasta a deterioração da carne".
Pois bem. Os anjos e capucinos pintados por Cimabue são carrancudos e nada simpáticos, zero afetivos, mais ou menos como quando os asseclas de Napoleão chegaram à Casa Real Portuguesa (então em fuga para o Brasil) e José Napoleão exclamou assustado ao ver os quadros da Família Real: "Como são feios!".
É uma evidência do tempo, por óbvio, mas o pintor florentino é um precursor da arte digamos, "moderna", ele simplesmente rompe com o estilo bizantino da arte europeia vigente até então e dá "tridimensionalidade" à sua pintura, e algum realismo também. Note a túnica exageradamente negra da Virgem, prenunciando oa dor excuciante do luto que sentirá dali a 33 anos?
Fiquei mais tempo observando o milagre deste quadro e quase bocejei quando diante fiquei frente a frente do meu primeiro Leonardo da Vinci, que não me entregou nenhuma emoção sensorial nem me levou para o mundo dos sonhos. Abaixo a "Anunciação" do Léo, e a "Maestá" de Cimabue, ambas maravilhas estão na Galleria Degli Uffizi, Firenze, onde eu, abusado, toquei num busto de um general romano (Caracala) e o guarda perguntou se eu queria levá-lo para casa, eu disse que sim...
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